Opinião: Ética segregacionista

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Opinião: Ética segregacionista
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado




É comum ouvirmos que alguém, por motivo ou outro, não está agindo bem, não está fazendo a coisa certa, nem por determinação da lei e nem por exigência daquilo que esteja no campo da ética, da moral e dos bons costumes.

Fala-se muito, e principalmente, na questão ética. Será que se leva a sério tão importante tema em toda e qualquer atividade humana e profissional? Tenho comigo que não. Senão, vejamos. É comum alguém, depois de consultar um médico ou advogado e depois de ouvir opinião das duas categorias, buscar uma segunda opinião. Será isso correto? Provável que sim. Nada mais justo. Em tese, não se está fugindo ou ferindo a ética, a moral etc.

Para desencargo de consciência, seja por excesso de zelo, prevalência do bom senso, esteio da segurança, não só pode como deve procurar uma segunda opinião, guardando, na evidência, o cuidado de acertar com aquele ou com aqueles aos quais recorrem e busca ajuda. Caso contrário vira uma baita confusão. Quando, então, lado outro, por parte destes é preciso o resguardo, sobretudo, do sigilo profissional.  

O respeito às regras do jogo é fundamental, na observância dos valores humanos no que diz respeito ao comportamento e posturas transparentes. Mesmo porque se ética profissional sugere mais que honestidade e consciência, passando a ser elemento central para o sucesso de indivíduos e de empreendimentos comerciais, o sigilo profissional é fator primordial. Mesmo porque sigilo é tão importante quanto o ar do sucesso que se respira. Nele envolve direito e dever do agente e do profissional. E mais: está em não divulgar informações obtidas em decorrência de suas atividades. Caso contrário vira uma bagunça generalizada.

A matéria é complexa e envolve uma série de fatores, entre os quais a interferência do poder público. Ente que naturalmente fiscaliza cada passo de cada um de nós no meio social. Nunca a vida das pessoas ficou tão devassada, tão à vista. De repente, a pergunta: como fica a privacidade dos cidadãos, enfim, de nossas existências? É complicado.

Hoje em dia, alguém chega ao estabelecimento público ou privado, não perguntam pelo nome, mas sim pelo CPF, ou seja, estamos inseridos no cadastro de pessoas físicas. O que não é novidade. Pelo menos até que que apareça o chip, aquela lâmina miniaturizada, cujas funções muito terão a ver com as identificações. Pelo jeito não demora.

Então se volta às duas profissões anteriormente citadas: médicos e advogados. As duas classes profissionais se valem da ética e do sigilo profissional, estando subordinados ao Código de Ética Profissional. Nem todas as profissões devem obrigação ao sigilo profissional. Outras ultrapassam o limite. Será que os meios de comunicação seguem rigidamente os padrões e as regras destinadas a resguardar valores dos indivíduos, entre os quais a camada mais pobre da sociedade? Tudo leva a crer que não.

Programas bombásticos, na busca insana por audiência, ocupam espaço público, exibem o íntimo das pessoas, entram com repórteres nas periferias e favelas dos menos favorecidos pela sorte, execram, no intuito da espetacularização da pobreza. E onde entra a ética em casos tais? Não se observa. Não há. Os direitos são violados, feridos, à custa do sangue de desafortunadas criaturas de um quadro social tão pobre quanto lamentável.

Em razão de tudo e por tudo, vê-se a desigualdade envolvida nas circunstâncias da vida. Não deveria haver por igual a prática do Código de Ética, Sigilo, Respeito – seja lá o nome que se queira dar – no âmbito da lei, por imperativo da igualdade social? Questionável.

O dever moral, a ética e os bons costumes deveriam, sim, apontar as mazelas, as tristezas do mundo em que vivemos, mas para o bem. Com o intuito de ajudar, para que o mundo das pessoas deixe de ficar menos feio e triste e levar adiante a alegria de viver. Vejam os casos das enchentes em várias partes do país. É sinistro. Chega-se à casa, não há mais casa; não há cama, mesa e banho. Banho de lama, sim. Nem sequer há documentos. Imaginou? A autoridade para o cidadão: “Documentos do veículo e pessoais... Perdeu na enchente? Eu com isso. Teje preso!”

No que tange ao “direito” de informar acerca dos diferentes mundos social e político, na busca pelo ibope, nos impele demonstrar o óbvio: existem duas ou mais verdades num mundo que mais se revela cão do que submetido a dispositivos legais. E não só. Do que normas voltadas para o bem-estar da sociedade, o que objetivamente acarreta muitas penas. E não menos, no desagradável, dores agudas e intensas.

Para o exercício pleno do bem e da ordem, façamos o seguinte: a paz seja restabelecida pela ausência de conflitos. Sabedoria antiga e que a ela nos faz chegar através de tênues fios condutores de um coração agradecido, aqui e agora: “Falemos tudo de bom das pessoas; aquilo que não for bom, que não agrega e não seja fator de elevação da alma, melhor jogar nos arquivos do “pra nunca mais voltar”.  

Com quem aprendi a lição? Mesmo personagem de uma agência bancária de bons tempos de minha juventude em Passos. Ele que também sentenciou: “A amizade é via de mão dupla”. Um dia por aqui passou, fez o dever de casa, tornou-se lição de vida – no chamativo dádiva – Sebastião Thomaz de Abreu, o Doro.

Ao eterno mestre da ética, moral e bons costumes, o carinho da homenagem.