Opinião: Barrados no Baile, o descompasso
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)

Há momentos na vida em que a pressa em ser alguém que ainda não se é pode levar a lugares onde nunca deveríamos estar. E, por vezes, esses lugares vêm com holofotes e plateias, o que só aumenta o constrangimento. Foi assim que me peguei pensando sobre a cena inusitada de um casal que, ao cruzar oceanos para assistir a um evento histórico, acabou barrado – literal e simbolicamente – à entrada de um sonho que não lhes pertencia. Por medo e a mando de quem?
O baile, no caso, não era apenas uma alegoria. Era um lugar com convites restritos, códigos de vestimenta e uma aura que exigia mais do que passaporte e boa vontade. A tentativa, ainda que audaciosa, revelou um descompasso que não se resolve com gestos largos ou palavras ensaiadas. Não basta querer entrar; é preciso estar à altura do que se espera lá dentro.
O curioso é que essa vontade de ser algo mais – algo maior – é universal. Quem nunca tentou esticar o pescoço para ver, parecer mais alto ou ensaiou um sorriso de quem sabe mais do que realmente sabe? Mas há uma linha tênue entre o querer crescer e o atropelar o tempo. Entre o ser e o querer ser, há uma ponte que não se cruza com atalhos.
O episódio, para além do humor involuntário, é um lembrete da importância de saber o próprio lugar no mundo. Não como resignação, mas como sabedoria. Porque, de se acreditar, quem sabe quem é, onde está e para onde vai, dificilmente será “barrado no baile”, seja ele qual for. Afinal, entre o certo e o duvidoso, sempre existirá uma ponte intransponível, e cruzá-la exige mais do que desejo; exige preparo, humildade e, sobretudo, autenticidade.
Se há uma lição nisso tudo, talvez seja a de que não há vergonha em esperar o momento certo. O mundo está cheio de festas para as quais todos – sem exceção – foram convidados de coração. Pessoas antes excluídas, invisíveis, esquecidas. E nelas, a entrada será sempre garantida.
Afinal, ninguém precisa de sapatos apertados para dançar a vida. A música certa, no salão certo, chega para todos, no tempo certo. Enquanto isso, vale o ensaio, o passo discreto, o sorriso sincero. Porque, entre tropeços e melodias, descobre-se que o verdadeiro baile não está na pompa, mas na leveza de saber que, às vezes, ficar do lado de fora é só o universo dizendo: “Calma, tem algo mais bem-vindo por aí”.
Entre uma saia justa e um Salão Oval, o melhor mesmo é não arriscar a dança, porque, no fim das contas, em certos lugares, o convite não vem com improvisos, e passos em falso fatalmente só servem para escorregar no próprio entusiasmo.
Ademais, a lição que permanece é saber dançar conforme a música, lembrando sempre que o convite certo chega às pessoas certas no momento certo, sem a pressa de ultrapassar limites.