Opinião: Bomba

Anísio Cláudio Rios Fonseca (De formiga/MG)

Opinião: Bomba
(Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do UNIFOR-MG, coordena dor do laboratóri o de mineralogia e espec ialista em Solos e Meio-Ambiente)




Há alguns meses este diário noticiou com exclusividade que os aviões da FAB haviam jogado uma 3ª bomba aqui em Formiga, na década de 80. Esta caiu na lagoa do fundão e lá permanece. Seria interessante localiza-la com algum tipo de equipamento (magnetômetro) acoplado em uma lancha. Vejam bem, a lagoa é relativamente rasa e cheia de sedimentos inconsolidados no fundo (barro). O avião deveria estar, sei lá, a uns 400km/h e à uns 150-200m de altitude quando soltou a bomba, na verdade um lastro, pesando 230kg. Multipliquem um pelo outro e terão o momento linear de força; ara, o que importa é que foi um impacto dos diabos e ela deve estar bem enterrada lá. Será que alguém viu o local exato onde ela caiu? A cidade foi indenizada por causa de duas delas, logo, ainda tem uma grana a receber pela terceira (êta). Com essa grana a turma bem que poderia arrumar os tais banheiros do terminal rodoviário, visto que o Eduardo Brás, quando prefeito, não deixou escapulir a oportunidade. A turma da aeronáutica que veio aqui conferir o estrago aterrissou um Jolly green giant, enorme helicóptero de guerra, bem no campinho de futebol (do Nacional?) que ficava em um dos acessos para a lagoa do fundão. Na época não tinha asfalto ali não, era uma trilha. Depois de tudo acertado e de farto jantar no Capri, a turma decolou às 23:00h naquele belo pássaro, deixando um dos projéteis aqui, ou melhor, dois, com o da lagoa. Esta confusão toda foi muito boa para a cidade, tendo sido divulgada no mundo inteiro. Agora temos que contratar o James Cameron, é, aquele diretor de “Titanic”, já que o passatempo dele agora é busca submarina, utilizando sofisticados equipamentos de varredura lateral. Acho que ele vai se espantar com nossa lagoa do fundão e suas águas escuras como as do lago Ness; só não tem monstro, só moça bonita. Calculem que uma daquelas bombas atravessou o muro da exposição e se enterrou uns três metros sob o asfalto, imaginem o que a outra não fez no fundo da lagoa. É verdade que, se usar um equipamento apropriado, várias outras coisas serão localizadas, tais como canoas, óculos, latas, arames, chaves e outras coisas. A oxidação de objetos de ferro e aço sob as águas é bem variável, conforme a circulação do oxigênio nas mesmas. Talvez a bomba esteja bem protegida pelo barro, tal e qual organismos em processo de fossilização. Se um dia for recuperada, merecerá outro monumento, desta vez coberto para proteção contra intempéries. Será mais um marco em uma cidade onde acontecimentos inverossímeis como este acabam por divertir a população, pois, ao contrário do que a mídia de fora noticiou na época, a turma não estava apreensiva com o fato e tinha até um sujeito metendo o enxadão no asfalto porque disseram que a carcaça da bomba era feita de chumbo e chumbo custava uma nota! Felizmente não houve vítimas neste episódio além de umas formigas no asfalto e uns peixinhos na lagoa. Vamos à caça!