Crônica: Lepidóptera

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Crônica: Lepidóptera
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do Unifor-MG, coordenador do Laboratório de Mineralogia, membro da Acad emia Formiguense de Letras e especialista em Solos e Meio-Ambiente




O primeiro vislumbre eliminou a necessidade da lupa e dos óculos. A cor mimética desta aparição eclipsou momentaneamente o restante da paisagem. Reflexos esparsos aumentaram a sensação de levitação que se apossou dos meus sentidos. Em sua elegância, movimentos de asas pontilhadas de estrelas azuis faiscaram o fundo cinza da minha percepção. Lepidóptera! Nome até complicado para uma ordem de criaturas tão inverossímeis quanto belas. Tanta beleza deve ter seu preço, mas o êxtase de existir com tanta grandeza deve compensar cada instante de sua existência. Lepidóptera! A floresta nunca seria a mesma sem você. O que faço não importa mais enquanto o farfalhar das suas asas desloca porções do ar que respiro. Agita todos os seres que se curvam a sua passagem. Suas asas, liberdade ou maldição, invejam todas as criaturas aladas que se arriscam a tentar te copiar. Ah, lepidóptera, não imagina seu efeito sobre tudo o que te vê. Interpola nas memórias de tudo que vive as imagens do nascente ao poente, onde pulula docemente tudo o que te apraz. Criação divina, dona dos ares, sorve o néctar suculento das suas flores e voa em segurança enquanto eu, menino sonhador, tento te tocar em um momento de delírio.