Opinião: Cientistas da arte

Manoel Gandra (de Formiga)

Opinião: Cientistas da arte
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Explicar o que é arte e pra que ela serve é tarefa impossível. Na verdade, a arte não serve pra nada e ao mesmo tempo é indispensável. Disse o poeta Ferreira Gullar que “a arte existe porque a vida não basta”, acertou na mosca.

Professores e acadêmicos espalham que a arte é o belo, e que o belo é tudo aquilo que emociona. Pode até ser essa uma aceitável definição, mas quando se fala em belo há de se refletir: o que é belo para um pode não ser para outro; então, o belo é alguma coisa que se porta subjetiva. E mais: o belo implica em estética, só que não dá para criar leis sobre qualquer tipo de estética. Não existe manual de estética.

Os anatomistas da arte dissecam poesias, dão aulas de como os versos devem se portar quando musicados e aplicam fórmulas químicas para justificar determinados pigmentos em telas das mais diversas. Aí, vem alguém e bagunça tudo.

Quem impõe verdades e determinismos a respeito de produções e manifestações artistas é alguém que não é nem nunca foi artista. Gostaria de ser, mas...

Alguns professores de literatura conhecem tudo do clássico e do romantismo, mas não conseguem explicar a existência de um Patativa do Assaré. Professores de música sabem tudo das sete notas, mas nem imaginam como possa ter existido um gênio como Luiz Gonzaga e sua sanfona. Há quem se entusiasme com aulas de dança em cursos e academias, mas repetir não é criação, e o artista é aquele que cria.

Diz a lenda que, em uma exposição, uma senhora da sociedade europeia se posicionou diante de uma pintura que não entendia e fez o seguinte comentário: “Mas essa mulher tem a barriga verde”. Um conhecido pintor, me parece que holandês Piet Mondrian, retrucou: “Mas isso não é uma mulher, isso é um quadro”.

Noutra vez, Pablo Picasso teria dado uma declaração que complicou de vez os teóricos que não entendiam seus traços: “Levei cinquenta anos para aprender a pintar como uma criança”.

Não sei quem fez a afirmativa, mas ela coloca os cientistas da arte em seus devidos lugares: “Pintar um cachorro exatamente como é um cachorro apenas aumenta a quantidade de cachorros”.

A arte brinca e faz chorar. Aos cientistas, resta a frustração de não conseguirem produzir o que estudam e analisam.