Crônica: O chá
Manoel Gandra (de Formiga/MG)
Viveu em Formiga uma pessoa diferente. Ele era Rui dos Anjos Peirão. Radialista, jornalista e poeta, Peirão veio para a cidade logo no início da “Difusora-AM”. Por aqui se casou e acabou compondo com seu sogro, Nhonhô Fonseca, o Hino a Formiga, o mais bonito hino municipal de que se tem notícia.
Intelectual, Peirão era sempre solicitado por políticos locais quando se viam em apuros. Morrendo de rir, contava nas rodas uma que teria se passado com ele e com o Coronel José Justino, prefeito de Formiga lá pela década de 50.
Naquela época, o Coronel havia recebido um convite do Palácio da Liberdade para um importante jantar com o governador. Nascido e criado no meio rural, o prefeito, que era das pessoas mais respeitadas da região, temia não se comportar dentro dos conformes diante da maior autoridade do Estado e chamou Peirão para acompanhá-lo na comitiva.
__Não tem problema não, Coronel. Na mesa, eu fico ao seu lado e tudo o que eu fizer o senhor faz também.
E tudo foi combinado. E tudo ia dando certo. Chegava a salada, Rui pegava os talheres bem devagar e o prefeito de Formiga fazia igual. Depois da salada, os garçons trouxeram à mesa costeleta de cabrito. O Coronel José Justino olha para os lados e todos os outros convidados estão pegando a costeleta com as mãos. Ele se dirige a Rui Peirão e o jornalista faz sinal com a cabeça de que “é assim mesmo”.
Terminada a costeleta, ao lado dos convidados foi colocada uma tigelinha com água morna e pétalas de rosas para que cada um limpasse as pontas dos dedos. Sem olhar para os lados, o Coronel formiguense pega o recipiente e toma a água morna.
__Depois do jantar, o Coronel chegou perto de mim e disse que gostou muito da comida, mas achou que o chá estava meio sem doce, brincava Rui Peirão.