Opinião: Diferença de doer

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos)

Opinião: Diferença de doer
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado.)




Vejo na mídia que número de mortes por dengue cresceu 14% em Minas. Exagero ou não, no embalo, prova inequívoca de que tamanho não é documento. Um pequeno e ultrajante mosquito, quase imperceptível, faz estrago de doer e espalha terror em nosso meio. 

Segundo a ciência, doença tropical que mais se espalha no mundo e perversamente ataca crianças e adultos – incluam-se pavorosamente os bebês, provocando febre, entre outros sintomas, podendo também ser assintomático. Por fim, para desagrado geral, acrescentam: ameaça “pandêmica”. 

Quanto às manifestações, certificam médicos, até que se parece com a covid-19, exceção feita aos aborrecimentos. Ao sentirem o incômodo, muitos procuram unidades médicas pensando tratar-se do mal que ceifou mais de setecentas mil pessoas no Brasil [número até então impreciso]. No entanto, quando menos se espera é o mosquito da dengue fazendo proezas, provocando pânico. E haja fumacê para a alegria da festa!

E funciona assim, no modus operandi: o bichinho se achega e, sem pedir licença, pica e toma rumo ignorado. Ignorado, não! Ele pode fazer outros ataques, dependendo do lote de ovos que produz. Pelo menos é o que a medicina assegura. Há casos de um único mosquito importunar uma família inteira. Pai, mãe, filhos, e a sogra junto. Sem contar os vizinhos. Aquela caixa d’água destampada!
Quisera saber – como quisera – poder estimar quem se salvaria num páreo duríssimo no quem é quem para nenhum troféu ou placa de distinção: os que maldosamente prejudicam crianças, idosos e vulneráveis, incluam-se as indefesas mulheres por incessantes maus-tratos, ou esses sacripantas da família aedes- aegypti?
A contenda poderia se estabelecer em colegiado. De um lado, olhares atentos de cientistas e membros da vigilância sanitária; do outro, para muitos o consagrado manto sagrado do judiciário brasileiro, como pano de fundo a força arbitral do bem e do mal.
Posto isso, tem-se como prevalência que mosquitos insolentes, em casos agudos extremamente mortais, em tese virtualmente favoritos, podem sucumbir-se e serem vencidos nessa batalha. Afinal, na outra ponta, estão os monstros da sociedade humana disfarçados de pessoas, as quais agem de maneira atroz e sorrateira, sem dó e nem piedade. E o pior: sob olhares complacentes da impunidade, mais e terrivelmente em função de um aparelho judiciário que faz que trabalha e opera mediante leis fracas e inoperantes, atrelado a um sistema carcomido pela sorte do tempo e por inabilidade ou incompetência de nossos legisladores. 

Para militantes na seara do direito, o ponto negativo é a crença de que o velho e ultrapassado Código Penal “é uma mãe ao delinquente”. Se bem que no fator “aplicação da lei”, por dever de ofício, deve inserir-se o fato de o Estado fazer-se presente e coibir o delinquente na sua liberdade individual ou de seus bens. Ou seja, melhor mesmo é agir com rigor, sem complacência, como fazem os impiedosos insetos que febrilmente desarticulam membros de todos os tipos e matizes na hierarquia humana e deixam marcas e cicatrizes profundas no corpo e na alma.

Como também incompreensíveis e insuportáveis são os ataques e violações a crianças e adolescentes, incluindo-se idosos e pessoas com deficiência, os vulneráveis por assim dizer.  Com tudo isso, deixam-nos preocupados com a violência que aumenta, incomoda e atormenta a mais não poder. São vidas tantas em sociedade e que merecem paz e sossego. 

Por último, pelas raias do absurdo, números alarmantes nos remetem a surda e mouca preocupação. De acordo como o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, dados do ano anterior: “O Brasil registrou 74.930 estupros, o maior número da história, e 61,4% das vítimas tinham no máximo 13 anos de idade” (ANDES-SN).
Em ambos os casos, a envolver mosquitos da dengue e bandidos de todo gênero à espreita, e no gênero cinematográfico “o inimigo mora ao lado”, quisera, ó como quisera, poder dizer: é "o fim da picada".

Pela indigência das leis quanto à sua eficácia, não menos o desleixo na educação praticada nas escolas públicas e privadas. E, sobretudo, considerando-se o grau de tolerância para com a violência sórdida em toda a extensão moral e territorial, mil vezes não! Na conformidade do que o bom senso revela, apregoa e manda dizer: é inaceitável.

Como diz Cristovam Buarque, devoto nacionalista, ele que há muito não dá as caras: “A atuação das políticas públicas está relacionada com o desenvolvimento social”. Como a educação está intrinsecamente ligada à evolução da sociedade em todos os seus aspectos, em especial quanto à humanização, podemos acrescentar: o respeito continua sendo básico e fundamental. 

No frigir dos ovos, pelo mal da violência, misturança se faz, com ataques e pânico de todos os lados.