Opinião: O fanatismo é de morte

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)

Opinião: O fanatismo é de morte
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado. (luizgfnegrinho@gmail.com)




O fanático – tomando-se o fanatismo como atitude radical em defesa de algo – é detestável e insuportável, já que acarreta malefícios para todos, muito especialmente para ele próprio. O fanático presume que está certo, acha que o mundo gira ao seu redor, acha que está autorizado a fazer tudo que lhe vier à cabeça, sem se dar conta de que seus atos possam implicar em agressões físicas e morais a outras pessoas. Numa tacada, essa é a figura do fanático intolerante.

E quando se fala em fanatismo vão pensar que esse mal está concentrado só na política e nas ideologias. Não é verdade. O entusiasmo excessivo pode estar perto de nós, em toda e qualquer área. Na política, nas crenças religiosas, no futebol, por exemplo.

Está certo de que essa patologia – vamos chamar assim os horrores do fanatismo de que falava Voltaire – incomoda muito ou mais que uma cefaleia, como os médicos chamam a dor de cabeça. E o curioso é que os fanáticos são ardentemente chatos e nem percebem. Vejam por aí.

Quem disse que é proibido por lei, normas e costumes que não podemos defender e até mesmo viver em função de uma causa? Claro que não há óbice ou impedimento. Quem torce por um time de futebol (sou apaixonado pelo Galo de Minas) pode fazê-lo livremente, sem constrangimento algum. Nunca fui de querer que todos torçam pelo meu time. Cada um tenha o seu. Quando meu filho Sérgio nasceu, não impus a ele que torcesse pelo Clube Atlético Mineiro. Ele é Flamengo, na reciprocidade do respeito.

  Querem ver? Na partida de futebol valendo pelo Brasileirão, em 80, contra o Flamengo, no Maracanã, saímos de Passos em caravana para ver o espetáculo. Éramos cerca de 10 mil galistas, em oposição aos mais de 140 mil rubro-negros. No primeiro jogo o Galo venceu por 1 a 0, no Mineirão. No jogo de volta, no Rio, precisávamos apenas do empate. Num jogo eletrizante que entrou para a história, o Flamengo reverteu a desvantagem, venceu por 3 a 2, ficou com a taça e obteve o seu primeiro título do Campeonato Brasileiro.  

 A não fugir à regra, arbitragem horrorosa contra os mineiros. Embora a torcida do Galo, significativamente em menor número, fomos agredidos durante a partida pela polícia no estádio, que fica na divisa para evitar conflitos. Tomamos lambadas com os impiedosos cassetetes. Vejam só. Apenas torcedores que foram ao estádio Mário Filho para ver seu time jogar. Também me lembro do Argemiro Lemos correndo comigo para deixar o estádio em polvorosa, temendo coisa pior. Um Deus nos acuda!

 Depois de tudo, vão dizer que tomei birra do Flamengo, de Zico e companhia, que nem do Rio eu gosto. Que nada! Zico, pelo Mengo, e Reinaldo, pelo Galo, dois craques que enobrecem a galeria do futebol arte mundial. Pena que Reinaldo parou cedo de jogar. Para Zico, se Reinaldo continuasse jogando, a única maneira de parar o craque de Ponte Nova era atingindo-lhe o joelho, seria certamente o substituto de Pelé. 

 Assim, presto homenagem a ambos os times daquela época. Pontuando que o técnico do Galo era Procópio Cardozo, ao passo que do Flamengo, Cláudio Coutinho, também técnico da seleção brasileira de 78. Cláudio Coutinho gostava de aplicar estrangeirismos em tudo. Cunhou no futebol brasileiro o termo overlapping, “quando o jogador se desloca sem a bola para atrair a marcação dos adversários”.

E onde entra o fanatismo nisso? Explico. Posso ter muito para não gostar do Flamengo e de sua torcida, não só pela rivalidade até hoje existente. Entretanto, a ética e o respeito devem estar acima dos fenômenos atribuídos à paixão exacerbada. O respeito, acima de tudo. O tema vale muito nesses dias de disputas eleitorais. Há quem se torne inimigo até do amigo por questão política. Que bobagem.

Quando se volta ao estado de antes. O fanatismo pode ser visto e definido como zelo excessivo e acrítico. Na linha de frente, o fanático, ou seja, aquele que cegamente segue uma doutrina ou partido. E não é de duvidar, capaz de fazer um monte de besteiras, muitas das quais irrenunciáveis, dessas que não têm volta. 

Se você, caro (a) leitor (a), é uma dessas tristes e pobres figuras, ranhetas, chatas, intolerantes e agressivas, os meus sinceros respeitos, atrelados ao sentimento de comiseração, no seu mais profundo pesar. 

 Nota a ser enquadrada na escala de valores harmônicos não poderia ser outra senão um dissonante dó.