Opinião: Formiguenses, que vergonha!

Lúcia Helena Fiúza (de Belo Horizonte/MG)

Opinião: Formiguenses, que vergonha!
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Há uma máxima que ouvi desde criança: A gente sai de Formiga, mas Formiga não sai da gente. E é verdade pura e verdadeira.

Fui embora da Cidade das Areias Brancas em fevereiro de 1992, tinha quase 30 anos, porque meu marido, Josafá de Paula, tinha de abrir novas praças, ele era viajante de armarinhos. Viemos direto para Belo Horizonte, ele faleceu em  janeiro de 2015 e eu estou por aqui até hoje.

Apesar de ter deixado a cidade há 40 anos, sempre vou ao município. Acho que umas quatro vezes por ano. Vi de tudo, não perdi nada na evolução de Formiga. Guardo até hoje recortes da história da Bomba que caiu no Parque de Exposições e notícias do time do Formiga. Fico repleta de orgulho de contar que sou da cidade da   ngela Vaz Leão e do Padre Fábio de Melo, sinto que causo inveja. Biscoito aqui em casa é só da Vale D‘Ouro e linguiças, só da Merci. Sou freguesa antiga.

Depois da internet e das redes sociais, principalmente o facebook e whtsApp, fiquei ainda mais perto dos amigos e da família. Todo dia falo com alguém e sempre dou uma passadinha para ver postagens, algumas, tenho de reconhecer, muito interessantes.

Só que nem tudo consegue ser sucesso o tempo inteiro. Uma pena. Minha querida cidade natal tem me matado de vergonha nos últimos dias, nunca pensei que fosse ver tanto formiguense radical e tresloucado. Vi com meus olhos conterrâneos jogando na lata do lixo os princípios democráticos que tanto custaram à população.

Até mim, chegaram vídeos de pessoas (bolsonaristas) que não conheço (ainda bem) insatisfeitas com o resultado das urnas. Elas estavam às margens da rodovia, ao lado de caminhões parados, incitando a população a ir fazer vigília na porta do Tiro de Guerra. Objetivo: rogar por intervenção militar.

Também apareceram filmagens de ceia de Natal na rua em frente ao TG (quem será que bancou? seria bom saber), quebraram até o braço de um infeliz que passava. Uma mulher vestida de roupa camuflada humilhando o Legislativo Municipal foi uma das cenas mais ridículas que pude ver (a concordância dos vereadores foi constrangedora).

Dá para entender que quem votou no ex-presidente Jair Bolsonaro esteja triste e inconformado. Como também há de se reconhecer o direito à festa de quem votou no presidente Lula. O que não dá para passar pela cabeça é o que aconteceu no domingo, dia 8, em Brasília. Quebraram o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio da Alvorada e o Congresso Nacional. Danificaram obras de arte históricas com o ódio típico de quem não sabe nada sobre arte.

Para mim, vieram vídeos de mulheres formiguenses chegando a Brasília na segunda-feira, dia 9, um dia depois do quebra-quebra. Apareceu até foto de gente nossa presa em uma quadra coberta. E que tristeza, estavam sorrindo.

Eu fico pensando o que devem estar pensando os professores de história da Escola Normal, do Joaquim Rodarte e do Santa Terezinha. Acho que fracassaram, não conseguiram passar nada sobre o quanto foi cruel, torturadora, assassina e entreguista a ditadura no Brasil.

Além da vergonha que me toma, há também curiosidades que não cessam. O que esse povo sem nexo do que seja patriotismo foi fazer em Brasília um dia depois do vandalismo e da tentativa de golpe? Ora, eles saíram de Formiga na noite de domingo, vi no Pergaminho, depois de consciência e conhecimento dos atos terroristas, os canais de TV só passaram isso o dia inteiro. Será que foram para lá para dar apoio ou para aplaudir? Pensaram que participariam de algum tipo de revezamento ou dariam continuidade à tentativa do golpe que não deu certo?

Pela primeira vez, fiquei feliz em ter saído de Formiga. Tomara que esse sentimento passe logo.