Opinião: O alvo
Anísio Cláudio Rios Fonseca
Uma forte pontada na nuca fez com que ele percebesse que aquela situação era real. Ainda um pouco fora de si, conseguiu avaliar com calma a visão que se descortinava à sua frente. Um doce desespero tomou conta de seu ser. Temeu mais do que tudo, a possibilidade daquela aparição não fazer parte da sua vida. Precisava arquitetar um tipo de estratégia para se aproximar sem dar muito na vista, afinal, a garota era comprometida com um sujeito que, a seu ver, era amarelo. Talvez até não fosse amarelo, mas para ele qualquer homem que não fosse ele próprio junto a uma bela garota, era amarelo ou desbotado. E não é que a danadinha tinha para ele um sorriso completamente diferente do resto? Mais um incentivo! O primeiro passo foi se apresentar e, para isso, usou o sujeito amarelo, pois o conhecia. Como quem não quer nada foi se achegando, jogando seu charme e tomando conta da conversa. Sorrisos dela eram arrancados aos montes, e ele sabia que esta era uma tática que sempre dava certo. Depois, dia após dia, o esquema foi cronometrar horários para poder vê-la por breves e preciosos instantes, marcando assim sua presença com frequência. A isca estava lançada. Qualquer desculpa servia para se achegar um pouco. Ela gostava muito disso tudo e cada olhar era um convite para ficar um pouco mais. Um olhar como o dela poderia enlouquecer qualquer um, mas ele conseguiu manter a sanidade.
Ele sabia que uma garota tão atraente magnetizava diversas pessoas do sexo masculino, mas a prática o ensinou a se desvencilhar destes empecilhos irritantes. Numa das vezes, ele teve que usar seu poder de persuasão para afastar um pretendente mais abusado, onde até rosnou como um animal selvagem para o pobre coitado, que saiu às pressas do local. Claro que ele tomou seus cuidados e fez tudo isso sem dar na vista e sem deixar transparecer suas reais intenções. Como bom ex-militar, arquitetou toda uma estratégia para atingir seu alvo. E o alvo era ela! Que alvo lindo! Aquela garota inocente de vestido verde era um alvo perfeito e ele faria tudo para atingi-la de jeito. Que podia fazer? Precisava dela perto dele, pois qualquer outra possibilidade o amedrontava. Teve que aprender diversas coisas sobre ela, mas nada que ele já não soubesse ou fizesse ideia. Parecia uma versão feminina dele mesmo e isso aumentava o afã de ter aquela linda garota ao seu lado. Sem subterfúgios, criou coragem e contou tudo a ela. Emocionou-a com a contundente verdade de seus sentimentos. Cercou-a de carinhos e atenções. Abraçou-a e a protegeu na noite fria. Entregou seu coração a ela.
O tempo passou e a presença dele passou a ser tão importante para ela como a dela era para ele. Como par, palmilharam os mais altos níveis que uma relação pode oferecer. Elevaram seus espíritos e se amaram profundamente todos os dias que se seguiram. A simples ausência de alguns minutos passou a ser uma prova de resistência para os dois. Um dia ela confessou que sempre gostou dele e que marcava presença sempre que podia. Contou que sempre o acompanhou discretamente e constantemente. Confessou que a presença dele sempre foi mais do que o oxigênio que ela respirava. Orgulhoso ele concluiu que, afinal de contas, o alvo era ele...