Opinião: Reflexões sobre um tal de ‘bullying’
Anísio Cláudio Rios Fonseca
Minha infância e juventude foram vividas em um meio onde as pessoas conseguiam as coisas por mérito. Não tinha bolsa de nada, cota de nada, vaga, horário, faixa etc. Ah, sim, estudei até a quarta série na escola pública. Minha imaginação sempre foi muita acesa e eu cultivava passatempos diferentes do restante dos meus colegas. Fazia diversas histórias em quadrinhos, minhas redações sempre ganhavam prêmios, mas nos esportes eu não era exatamente um atleta. No futebol eu era o último a ser escalado e só recebia algum crédito quando fazia uma boa defesa no gol ou chutava forte com a esquerda.
Houve colegas que pegaram pesado comigo com as gozações e crueldades. Eu era muito covarde e não tomava uma atitude. Não havia leis que me protegessem. Sempre fui menor que meus colegas e instintivamente acreditava ser mais fraco também. Engolia certas humilhações e sempre tinha medo de um dito cujo que estudou no colégio Aplicação cismasse novamente comigo.
Nessa época não se falava em bullying e em nada parecido. Os problemas mais graves eram resolvidos na porrada e, em certos casos, na diretoria. Dar de cara com a diretora podia ser mais aterrorizante que esse tal de bullying. Pode parecer estranho, mas com o tempo as brincadeiras bestas dos outros se transformavam em força e essa força era guardada para alguma situação especial. Ora, até na natureza é normal se indispor com o diferente dentro da mesma espécie. Acredito que o que nos diferenciou dos animais foi a capacidade de respeitar o próximo, mas ainda assim certos indivíduos insistem em contrariar esse passo evolutivo, daí terem que fazer até leis para proteger os mais fracos. O caso é que isso cria uma distância ainda maior e, talvez, quem é humilhado nunca terá a chance de se erguer e se impor de alguma maneira, fortalecendo assim sua personalidade e ganhando confiança. O tempo dirá.
No meu caso, um idiota me cercou na escola e começou a zoar comigo, falando toda sorte de absurdos. Do nada partiu para agressão. O coitado sequer sonhava que eu era canhoto. Eu o soquei com tanta força que ele não conseguiu mais se levantar. Depois disso, nunca mais me implicaram de maneira agressiva, pois sabiam que eu não era um banana qualquer. Depois vieram as artes marciais, mas com elas também veio uma enorme capacidade de autocontrole, mas isto é outra história.
Há alguns anos encontrei com aquele ex-colega que foi um terror para mim. A comparação foi inevitável. Hoje sou muito mais forte do que ele. Ele virou um molambinho magricela. Poderia fazer o diabo com ele! Esse mundo é uma bola mesmo! Algumas lembranças vieram. Entretanto, maior do que a vontade de pega-lo pelo pescoço e virá-lo do avesso, foi a iniciativa de cumprimentá-lo. O tempo, claro, nos fez crescer de diversas maneiras. Hoje, quem me implicava, admira publicamente o que faço e existe companheirismo. Não estou incentivando ninguém a socar ninguém para resolver as coisas, mas digo que jamais se deve baixar a cabeça e se deixar humilhar por quem quer que seja. Não importa o nome da humilhação. Há diversas pessoas que sofrem o diabo com isso por aí, mas a força para deter o mal está dentro de cada um, afinal, a gente tem na vida exatamente o que procura!