Opinião: Sobre a morte
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Pensei muito para escrever este artigo porque não tenho a menor intenção de ferir a sensibilidade e as crenças de ninguém. Relutei bastante porque as opiniões sobre este tema são tão variadas que não queria correr o risco de parecer rude ou insensível. Também não tenho a menor intenção de discorrer sobre o lado transcendental de um momento tão misterioso como a morte. O que há após a morte não nos é dado a saber em bases científicas comprovadas e documentadas, logo, devemos nos ater às religiões e suas filosofias, torcendo para estarem certas, enfim, manter nossa fé. O que eu quero é discorrer sobre os aspectos ligados à destinação dos restos mortais. Existe algo ainda muito arraigado em nossos genes, o qual se refere a um sentimento quanto ao destino que damos aos restos mortais de pessoas. A prática de enterrar ou mesmo preservar os mortos com as mais variadas técnicas vem desde os homens primitivos e continua nos dias de hoje.
Pessoalmente sou a favor da cremação obrigatória e gratuita de restos mortais, visto que os cemitérios são um problema antigo e mesmo os mais modernos ainda encerram problemas de ordem técnica e social. A contaminação de águas subterrâneas por microorganismos e substâncias provenientes da decomposição de cadáveres é problema em diversas cidades do país. Aliado a tudo isso, quem reside próximo aos cemitérios ainda tem que conviver com uma série de problemas como mau-cheiro, situações lúgubres, ratos, baratas, escorpiões, uma tremenda poluição visual, etc...
Na natureza qualquer organismo que morre é prontamente consumido por outros em pouco tempo, o que faz com que a reciclagem de elementos químicos continue normal. No caso de seres humanos, a cremação pode devolver ainda mais rápido os elementos para seus devidos ciclos, mantendo o ambiente livre de agentes patológicos e outros. Acho que a cremação é uma destinação mais respeitosa a quem se foi. Entes queridos que se foram residem no coração; não sob uma lápide fria. Contudo, não é necessário acabar totalmente com os cemitérios. Basta que os mesmos sejam locais bonitos onde se guardam as cinzas, como já existem em diversas partes do mundo.
Para muitas pessoas, uma evidência física da passagem da pessoa por aqui é um alento ao sofrimento da perda, daí a prática de se visitar os mausoléus. Acredito que qualquer lembrança de uma pessoa querida que se foi deve ser de alegria, e esta alegria deve estar presente no dia-a-dia, onde vivenciamos diversas situações que podem relembrar a presença do ente querido. Isolar um corpo em um lugar como um cemitério não me parece ser a melhor maneira de perpetuar uma lembrança.
Quando perdi minha mãe fui ao enterro e vi quando uma moça apontou uma lápide e comentou com outra pessoa: Olha, meu pai está ali...
Achei interessante para comentar aqui. Na verdade, o pai dela está nos genes dela (50%) e na memória dela, não é?