Opinião: Ribeirão vermelho

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Ribeirão vermelho
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor e coordenador do Laboratório de Mineralogia do Unifor-MG




 Ribeirão Vermelho é uma cidadezinha localizada bem pertinho de Lavras. É cortada pelo portentoso Rio Grande e, para adentrá-la vindo de Lavras, tem que se passar por extensa ponte de ferro, atentos ao sinal para ver se não vem um trem. Seria um pesadelo topar com ele no meio da ponte, já que o carro e o trem não passam juntos ali. Além do mais, não dá para ir rápido porque o carro tem que passar entre os trilhos, sobre placas de ferro que o fazem deslizar muito. A cidade (e região) é entrecortada por uma formação de rocha básica que, quando se decompõe, origina os solos vermelhos abundantes por ali. Esta cor é causada pelo óxido de ferro férrico, como é o caso do solo da região do CAIQ e outros aqui em Formiga. Creio que o nome daquela cidade seja por causa disso. Ao lado do cemitério da cidade há afloramentos de rochas ultrabásicas se transformaram por metamorfismo em esteatitos, serpentinitos e amianto. Esteatitos e serpentinitos podem ser talhados como as famosas pedras-sabão que Aleijadinho usou em suas obras. Já o amianto é encontrado em veios por lá, sendo bem fibroso. O amianto foi muito explorado em outras partes do país e do mundo para utilização como isolante térmico em telhas, roupas contra fogo, revestimentos de interiores contra incêndios. Na verdade, este tipo de amianto está proscrito desde a década de 1970 por ser muito cancerígeno, tendo sido substituído pelo amianto crisotilo, bem menos perigoso. Estudantes da UFLA vão lá frequentemente coletar amostras para compor as coleções mineralógicas que têm que entregar. Tinha gente que não perdoava nem as rochas dos túmulos! De Lavras até lá é uma gostosa viagem de trem, mas na hora em que estamos nos acostumando com o gingado dos vagões, já chegamos! Além de suas curiosidades mineralógicas, a cidadezinha abriga um complexo ferroviário muito interessante, o qual possui uma estrutura grandiosa. Quando o visitei, estava completamente abandonado. Há ali uma enorme estrutura, em forma de coliseu, onde um trilho giratório no centro intercambiava locomotivas. Há vagões que transportavam caixões na 2ª guerra e outros tipos. As pilastras da gigantesca estrutura são todas de ferro e o engradamento do telhado é todo de ferro também. Nas enchentes do rio Grande, quase tudo fica debaixo d’água. Não sei como está hoje, mas bem que poderia estar tombado pelo patrimônio histórico e transformado em atração turística. Eu sempre fico impressionado com a quantidade de ferro e aço empregados nas estruturas ligadas à rede ferroviária. Basta pensar que um pedaço de trilho de uns 25cm pesa, dependendo do tipo, pesa mais de oito quilos. Ainda fico pensando sobre como deveria ser a atividade por ali há décadas atrás. Meu pai me contou que chegou a levar um carregamento de lenha para lá, em mil novecentos e guaraná de rolha. Mesmo com todo este aparato ferroviário, a cidade continuou pequenininha e, com certeza, recheada de histórias. Aqui em Formiga fizeram bom uso do complexo ferroviário. A instalação do museu, a reforma da casa do engenheiro e a parte adquirida pela Metha engenharia revitalizaram aquelas construções. Pena que não ouvi mais falar da tal locomotiva que iam colocar por aqui para turismo. Também acho lamentável que nosso país não tenha investido maciçamente no transporte ferroviário, o que baratearia mercadorias e desafogaria as estradas. Bom, quanto a Ribeirão Vermelho, quem tiver curiosidade deve acessar o Google Earth que, com certeza, vai divisar a enorme estrutura circular a que me referi aqui. Se margearem o Rio Grande, vão achar o cemitério e o terreno ao lado onde os estudantes da UFLA coletam suas amostras até hoje e onde coletei um dia.