Opinião: Vergonha alheia por formiguenses

Lúcia Helena Fiúza (de Belo Horizonte/MG)

Opinião: Vergonha alheia por formiguenses
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Vergonha alheia é uma locução da língua portuguesa que define o sentimento constrangedor que alguém sente ao testemunhar algo que outro indivíduo disse ou fez, é sentir vergonha pelo próximo.

A vergonha alheia é um desajeito ao presenciar alguma situação embaraçosa feita por um indivíduo que, normalmente, não percebe o quanto ridículo, estúpido, ignorante ou vergonhoso foi ou está sendo o seu ato.

De passagem por Formiga, não nego que tenha sentido vergonha alheia ao ver gente rezando o terço na porta do Tiro de Guerra e fazendo arminha dentro de igrejas.

Quando circulou minha coluna “Paranoia formiguense” no Pergaminho no dia 6 deste mês, onde eu conto que uma moça vestida de roupa camuflada imitando farda do Exército abriu a tampa de trás de seu carro no Terminal Rodoviário gritando feito louca contra o resultado das eleições presidenciais, parentes vieram me falar se eu já tinha sentido vergonha alheia igual. Respondi que já, que senti pior, bem pior.

O ano era 2013. Cheguei a Formiga doida para encontrar amigos, mas o que vi foi de matar. Na porta da Prefeitura, na Rua Barão de Piumhi, um monte de jovens bobocas, alienados e inconsequentes estavam acampados em barracas obrigando as pessoas a descerem do meio-fio. No outro dia, fizeram uma passeada atrapalhando o trânsito. Principais reclamações: o prefeito ser Moacir Ribeiro e o vice, Eduardo Brás, ter um filho como secretário municipal.

Linkando uma coisa à outra, a manifestação na Rodoviária é de gente que se diz de direita (que muitas vezes nem sabe o que é ser de direita) e a que aconteceu em frente ao Executivo foi do pessoal de esquerda (que em sua maioria não tem conhecimento teórico ou ideológico). Qual a mais nociva? É claro que foi a do pessoal em frente à Prefeitura, sem a menor dúvida. Aliás, as manifestações antidemocráticas do pessoal da direita de hoje só existem porque o pessoal da esquerda deu ideia com manifestações antidemocráticas em 2013.

A bagunça brasileira começou por causa de um aumento de tarifa de ônibus em São Paulo (R$0,20), quando a esquerda foi às ruas queimando ônibus e possibilitando o aparecimento do movimento black bloc (tática anarquista de ação direta). A coisa foi indo... foi indo... e tal movimento culminou na Operação Lava-Jato, que apareceu um ano depois dando visibilidade a embaraçados como Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, que acabaram, em conluio, prendendo o ex-presidente Lula. Depois vieram o impeachment da ex-presidente Dilma e os fracassos populares das administrações de Fernando Haddad, na prefeitura paulista, e de Geraldo Alkmin, no governo paulistano. Tudo aconteceu esquerda desanimou, saiu das ruas, e deixou os logradouros para deleite da extrema direita.

Em Formiga, a coisa foi triste e de muita vergonha. Foram manifestações que tiveram o preconceito como suporte e o entusiasmo festivo como fermento, nada mais que isso. Teve uma ex-aluna minha que gritou palavras de ordem, mas seu entusiasmo só durou até receber um sonoro cala boca com um empreguinho na Prefeitura; outro, que se vestiu de papel higiênico como um palhaço, passou a ser assessor em uma secretaria e nunca mais se limpou.

No fim de tudo, Eduardo assumiu a Prefeitura, saiu imaculado e o pessoal de esquerda foi obrigado a engolir seco ao vê-lo ir às redes sociais declarar voto em Lula nas eleições deste ano, o que a grande maioria dos militantes de esquerda, especialmente os do PT tradicional, não fez

Apesar de ser vergonha o que esse povo estranho está fazendo na porta do Tiro de Guerra e do Terminal Rodoviário, eles me dão menos vergonha do que me deram os monitores de camping no Centro da Formiga no já distante ano de 2013.