Cleide Aparecida Fernandes

Cleide Aparecida Fernandes




Apesar de estar na parte mais alta da comunidade, a igreja do distrito de Albertos vai ficando para trás. Desaparece por completo logo quando chega uma curva mais fechada.

Estavam findando os anos 1980, e Cleide Aparecida Fernandes, nascida pouco antes, em 26 de setembro de 1981, ajeitou-se e olhou para a frente para ver melhor o futuro que se apresentaria. Na memória, as aulas, os professores e os colegas da escola rural onde iniciou seus estudos.

Filha de Jair Luiz Fernandes e Maria Elizabeth Fernandes, irmã de Cleiton, Cleide veio para a zona urbana e morou nos bairros Alvorada e Nossa Senhora de Lourdes. Os momentos de aprendizagem, ela continuaria na Escola Estadual Aureliano Rodrigues Nunes e, na sequência, na Escola Doutor Abílio Machado, o Polivalente. A vida não foi fácil, bem nova, começou a trabalhar como babá, empregada doméstica e depois como manicure, indo de casa em casa.

Saiu em definitivo da Cidade das Areias Brancas em fevereiro de 2000 para cursar Biblioteconomia na UFMG, em Belo Horizonte. Estudar na Esbi, Escola de Biblioteconomia da Fuom, ficaria mais caro, não havia como pagar as mensalidades. “Por ser de família muito humilde, os tempos em Formiga foram muito difíceis. Tive de ir”, comenta.

Hoje, bacharel em Biblioteconomia com aperfeiçoamento em Inovação, Gestão e Liderança para Bibliotecários, pelo CERLALC/Universidad EAFIT, Colômbia, e especialização em Audiodescrição pela PUC Minas, ela atua como Gestora de Cultura na Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Desde 2006 desenvolve projetos de incentivo à leitura para crianças, jovens, pessoas com deficiência e comunidades socioeconomicamente vulneráveis. Atualmente, é responsável pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas e Comunitárias de Minas Gerais.

Agraciada com a Medalha de Honra UFMG 2021, foi Jurada do Prêmio Jabuti 2021, categoria Fomento à Leitura e agraciada com a medalha Professora Etelvina Lima, em 2023, como profissional bibliotecária de destaque no setor público.

“Uma das lembranças que guardo com muito carinho é da Biblioteca Pública Municipal que fica na Praça São Vicente Férrer, um pouco abaixo da Matriz. Foi lá que tive minha visão de mundo ampliada, foi entre os livros que pude alargar minhas fronteiras, foi por meio da literatura que pude ver minha história mudar. Mas também sinto saudades de amigos queridos e de minha família, que continua na cidade. Voltar? Não acredito que isso possa acontecer algum dia, minhas raízes já estão plantadas em Belo Horizonte. A vida nos apresenta possibilidades e não podemos deixar que elas passem. E eu não deixei”.