Crônica: A dor nas costas

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: A dor nas costas
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Pedro Soraggi era fotógrafo de família. Pela qualidade de seu trabalho, muita gente só aceitava que os álbuns fossem feitos com ele. Era casamento, fotos do Pedro; o menino nascia, chama o Pedro; aniversário, telefona pro Pedro; bodas de ouro, tinha de ser o Pedro.

Formiga inteira gostava do Pedro. Como tinha muito serviço, ele era obrigado a trabalhar dia e noite fazendo revelações em sua câmara escura. Acabou tendo problemas. Certa vez, ficou até tarde e acordou com uma dor insuportável nas costas. Foi chegando pra bater papo com o pessoal da pracinha, e todo mundo mandando ele procurar um médico. Estava encurvado.

__Que médico que nada, o Zé Leopoldo resolve isso num tapa, disse Pedro se referindo a um benzedor afamado que morava em Calciolândia, distrito de Arcos.

O tempo foi passando, e nada de o fotógrafo melhorar. Ao médico ele avisou que não ia, a solução seria mesmo o benzedor, só que Pedro ficava enrolando. Preocupado com seu grande amigo, o então prefeito Ninico Resende resolveu ajudar e mandou que o Zé Rosinha, motorista da Prefeitura, levasse Pedro a Calciolância.

Pedro chegou, e a fila era grande. Esperou umas três horas para ser atendido. Quando foi sua vez, ele explicou o que sentia, e Zé Leopoldo não teve problemas em diagnosticar: “É coluna.”

Pedro se deitou no chão e Zé Leopoldo fez um círculo de pólvora em volta dele. Pôs fogo, e o fumação subiu. O curandeiro então mandou que uma senhora de uns 80 quilos que estava na fila subisse nas costas de Pedro enquanto ele fazia umas rezas.

Meia hora depois, o fotógrafo estava viajando de volta a Formiga com a mesma dor nas costas e com duas costelas quebradas. Não teve jeito, teve de procurar um médico.