Cronica: Boa noite, Brasil!
Manoel Gandra (de Formiga/MG)
Fazia muito sucesso no Brasil dos anos 70 o programa “A Grande Chance”, do apresentador Flávio Cavalcante. Transmitido pela extinta Rede Tupi, o programa, uma espécie de show de calouros mais sofisticado, ia ao ar às terças-feiras à noite e era líder de audiência.
Dentre os quadros do programa que mais agradavam, existia o “Boa Noite, Brasil”. Patrocinado por uma conhecida marca de leite em pó, o quadro tinha como objetivo prender o telespectador o máximo de tempo possível em frente à TV.
Entre um calouro e outro, Flávio ia a um telefone que ficava em um canto do cenário e discava para um número qualquer, na sorte. Valia para todo o Brasil. A pessoa que atendesse, antes de dizer alô, tinha de falar em voz alta: “Boa noite, Brasil!”. Os prêmios eram vários: aparelho de televisão colorido da Philco, rádio Semp, enceradeira da GE, bicicleta Monark... Se ninguém acertasse, a premiação ia acumulando.
Família numerosa, a do Seu Rubens da Drogaria Santa Maria se juntava e não perdia uma “A Grande Chance”. Os mais animados eram os dois mais velhos, os hoje engenheiros Paulinho Mário e Cláudio Mário, o Juju, que ficavam anotando e dando nota pros calouros.
Certa vez, Seu Rubens foi obrigado a colocar mais uma linha de telefone em casa. Eram seis filhos e uma penca de sobrinhos que vinham todos os anos passar as férias. Uma linha só era pouco. Um telefone ficava na mesinha da sala, e outro, no móvel da copa.
Muito brincalhão, Paulinho não perdeu a chance de avacalhar com o irmão. Era início de janeiro e a casa estava cheia. Primos, tios, sobrinhos, afilhados, pipoca, Q-Suco, todo mundo em frente à TV. Flávio Cavalcante vai ao telefone e disca um número. Paulinho corre ao móvel da copa e liga para o telefone da sala. Juju levanta-se feito louco e, muito alegre e emocionado, solta em voz bem alta:
__Boa noite, Brasil!
Foi uma festa. Paulinho teve de se trancar no banheiro para não apanhar.