Crônica: Futebol oblíquo

Nos anos 70, os torneios de futebol das manhãs de domingo no Country Clube de Formiga eram um espetáculo. Os associados praticavam esporte e se destacavam como os mais criativos gozadores. Ninguém deixava passar nenhuma gafe ou pernada-de-pau.

No “racha” dos domingos tinha muita gente boa, como o Loka, o Jaime Mendonça, o Célio Fantasma, o Luiz Bicanca e o Manoel Justino. Acabava o futebolzinho e era aquele mergulho na lagoa; na seqüência, uma cervejinha gelada no Bar do Marquinho.

Se pouca gente sabe que o “racha” foi sucesso há 30 anos, muito menos gente sabe que o ex-vice-prefeito, ex-presidente da Fuom, ex-estagiário do Ministério Público e atual diretor da “TV Oeste”, advogado José Mosar Arantes, foi o craque das domingueiras. Chegava bem cedo, mochilinha nas costas recheada de apetrechos - meião colorido, tornozeleira, caneleira, joelheira, faixa para colocar no cabelo. Meia hora para ficar pronto.

Era janeiro e José Mosar tinha acabado de se formar em direito. Estava entusiasmado com a nova vida, com um anel de formatura que seu irmão Maurílio lhe deu de presente e, principalmente, com vernáculo. Como advogado, ele poderia esbanjar na língua portuguesa que ninguém falaria nada.

Para que seus textos ficassem sempre bem feitos (dizem que foi isso que fez dele um brilhante profissional), Mosar começou a usar estruturas próprias da língua escrita na língua falada. Chegava ao Tropical e:

__Sirva-me um desses pequenos recipientes com cafezinho dentro...

E assim ia. O novo advogado cada vez mais cada vez, sempre se exercitando. Teve um domingo que o recém-formado resolveu colocar em prática sua verbologia em uma partida de futebol no Country. Foi triste. Teve gente que caiu da arquibancada de tanto rir.

Bicanca pegava na bola, e Mosar gritava:

__Passe-ME!!!

O Loka matava no peito e Mosar:

__Lance-ME!!!

Célio Fantasma ajeitava a pelota, ia ao fundo e Mosar, fazendo uma curva com o braço, tentando ensinar a jogada:

__Cruze-A!!!

O ex-escrivão do Crime, Licurgo Fonseca Viana, amigo do advogado, assistia ao jogo e passou mal de tanta gargalhada.