Crônica: O Matrimônio

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O Matrimônio
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Todo time de futebol de primeira linha tem seu quadro de torcedores fanáticos. E com o glorioso Formigão não poderia ser diferente. O FEC, como é apaixonadamente conhecido, sempre teve um grande número de admiradores. E um dos maiores foi o Zé Perpino.

Simpático, educado e grandalhão, Zé Perpino impunha respeito. Acompanhava todos os treinos, todas as partidas, fossem elas na cidade ou fora. Dava palpites, escalava jogador e ai do torcedor do Vila, o arqui-rival, que tivesse o atrevimento de falar mal do Formigão.

Lá pelo início dos anos 80, o FEC iria receber na cidade o time do Alfenense para um amistoso. A equipe do Sul de Minas tinha como principal atração um formiguense, o Helvécio (irmão do Écio, do Hélcio, do Deoclécio, do Tércio e do Alécio), que era zagueiro e não dava mole pra atacante. Entrava rasgando.

Preparando o time para o campeonato regional, o treinador Rui Cabeção temia que seu maior craque, o Herquinho do Liquinho, se machucasse. Rui sabia da fama de Helvécio e que ele tinha conhecimento de que o Herquinho era craque. Deu inúmeras recomendações. No vestiário, Zé Perpino ouviu a preleção com atenção.

Começa o jogo, o FEC domina. Herquinho recebe na corrida, Helvécio vem de carrinho e “vap!”, joga o rapaz no alambrado. Mais uma jogada. Zé Carlos toca para Brecha, que lança para Herquinho. Helvécio vem de sola: “lap!”

Inconformado, Zé Perpino desce da arquibancada, vai para a beira do alambrado e reclama violentamente:

__Ô Helvécio, faiz isso não, sô. Cê também é das Formiga. Se continuar assim, cê vai acabá machucando o Herquinho, que é o nosso maior MATRIMÔNIO.

Valeu a pena. Placar final: Formigão dois a zero.