Crônica: Mão suja
Manoel Gandra (de Formiga/MG)
Salomão Chicre e Dona Maria criaram uma família exemplar. São seis filhos que só deram, e dão, alegrias. Duas mulheres (Magda e Joana) e quatro homens (Ricardo, Arnaldo, Tirano e Klebinho).
Hoje, já estão todos casados e Salomão e Dona Maria colecionam netos. No mundo dos negócios, são invejáveis. Começaram com a Recapagem Alterosa, trabalharam muito e o grupo diversificou as atividades (fazendas, distribuidora de bebidas, etc., etc.) e está cada vez maior.
Quando crianças, os filhos de Salomão faziam de sua casa na Rua dos Viajantes uma festa. A meninada aprontava pra valer. As brincadeiras eram das mais variadas e, como sempre, o mais novo era a vítima preferida.
Na família dos Chicres, o caçula é o Klebinho. Ele tinha lá os seus 11 anos e, muito simpático e gordinho, parecia uma bolinha de pingue-pongue quando vestia a camisa branca do Colégio Santa Teresinha. Ele era o alvo. Ricardo sempre dava um jeito de esconder-lhe o potinho de brilhantina minutos antes da missa das oito e Arnaldo chutava o seu kichute para debaixo da cama na hora da aula. Ele morria de raiva.
Certa vez, fizeram uma brincadeira meio sem gosto, mas muito engraçada, com Klebinho. Toda tarde, ele se deitava no sofá da sala para assistir a desenhos e tirava uma soneca.
Havia um cachorrão que tomava conta de um estacionamento em frente, que fazia suas necessidades em um cantinho ao lado de uma roseira. Tirano (que tem gente que conhece como Cláudio Chicre) pegou um pedaço de cabo de vassoura e o lambuzou. Virou uma pelota.
Arnaldo, que era maior (bem maior) que Tirano, foi para um pequeno alpendre que dava para a sala e começou uma gritaria como se estivesse brigando com ele:
__Vem cá que você vai ver. Largue esse pau e venha com a mão, que você vai apanhar.
Dando uma de quem tinha peito de enfrentar Arnaldo no braço, Tirano chamou Klebinho:
__Segure aqui, Klebinho, segure aqui, que eu vou bater nesse cara é na mão...
Klebinho, que tinha acordado meio assustado, ajoelhou-se no sofá, debruçou-se na janela que dava para o alpendre e ainda meio dormindo foi pegar o cabo de vassoura. Quando ele segurou, Tirano puxou com força e ele lambrecou a mão inteira. Foi horrível, mas todo mundo que estava vendo (o Eduardinho Correa, o Stênio Lasmar e o Marquinho do Paschoal) dava grito de alegria. Klebinho começou a chorar e saiu pra rua pra bater no pessoal, mas não conseguiu pegar ninguém.