Crônica: O recriminado

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O recriminado
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Marcelo, Flavinho e Serginho são filhos do locutor pé quente, do Homem da Latinha, Aureliano Landico Pinto. Pai preocupado com a educação e com o futuro dos meninos, Landico, desde cedo, deu um jeito de preparar a rapaziada para o mercado de trabalho.

Como possui uma empresa de sonorização volante, uma das melhores da região, o radialista começou a colocar a garotada no batente ajudando na manutenção de aparelhagem, lavando carros e, assim que tiravam carteira, trabalhando como motoristas.

No início de cada ano, meados de janeiro, Landico pára as atividades para dar uma geral nos carros e nos equipamentos. Faz reforma geral, na época do Natal o serviço é muito e, como ele diz, “se não conservar, acaba”.

O ano era 1995 e o locutor, para aproveitar que os serviços estariam parados, resolveu passar uns dias na praia. Orientou todo mundo do serviço que deveria ser feito e, junto com sua esposa Maria Célia, seguiu pra Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Ficou duas semanas e, quando voltou, a decepção: um carro ainda estava desmontado na Oficina do Ildeu.

Chamou o mais velho, Serginho, que foi logo tirando o dele da reta:

__O que era pra eu fazer eu fiz, nada é culpa minha, não.

Foi ao Flavinho:

__Ô pai a culpa é do Marcelo, que não pegou as peças para entregar na oficina.

__Mas como vocês deixam o Marcelo por conta de uma coisa tão importante? Ele ainda é muito novo!...

Para defender os irmãos, Marcelo, então com 12 anos, contou o que houve:

__ Seguinte, eu fui lá na Oficina do Ildeu, peguei a lista de peças e  RECRIMINEI tudo numa folha de caderno. Foi tudo bem RECRIMINADINHO, só que perdi o papel.

__Mas por que você não telefonou pedindo outra lista?

__Foi porque o telefone estava ocupado, e eu não tinha o número da DISTENSÃO.

Como viu que não tinha jeito, Landico achou melhor ele mesmo resolver o problema.