Crônica: NINGUÉM VAI ACREDITAR!

AC de Paula (de São Paulo)

Crônica: NINGUÉM VAI ACREDITAR!
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




Devo confessar que já me aconteceram coisas incríveis, eu até ouso dizer que foram inimagináveis, tanto que se eu contar ninguém vai acreditar.  Com toda certeza vão dizer que é exagero e muitos dirão mesmo que é mentira. 

Claro que no mínimo mais uma pessoa testemunhou os fatos, mas com certeza ela também será tida como mentirosa, e por isso não abrirá o bico. Mas o fato é que essas coisas aconteceram realmente. Ninguém vai acreditar. 

Até porque, quem acreditaria? Coisas assim não acontecem de verdade, não para pessoas comuns. E ainda que eu jure de pé junto, conte e reconte, ninguém, absolutamente ninguém, vai comprar essa história. Eu e quem mais estava lá vimos tudo, e até agora parece impossível. Foi como se o tempo parasse, como se o mundo girasse ao contrário por alguns segundos, e o que parecia tão sólido desmoronou diante dos nossos olhos. 

Não era para ter acontecido, não havia como. Era um dia normal. Um daqueles em que você sai de casa achando que sabe exatamente como tudo vai se desenrolar. Mal sabia eu que, ao dobrar a esquina, o impossível estava esperando. A primeira coisa estranha foi o silêncio. Mas não um silêncio qualquer — era um silêncio pesado, denso, como se o ar tivesse ficado mais espesso. E então, o inusitado começou. 

Uma sequência de acontecimentos que desafiava qualquer lógica, que transformava o familiar em um terreno incerto. Havia algo no ar, uma sensação que eu não sei descrever, um pressentimento de que o mundo, de alguma forma, havia mudado. As coisas que vi, as coisas que aconteceram… 

Não havia explicação. E eu não estava sozinho, havia outras pessoas, e todas pareciam sentir o mesmo: um misto de espanto e incredulidade. Um burburinho começou a se espalhar, sussurros, olhares trocados. Ninguém tinha coragem de falar em voz alta o que estava pensando, como se verbalizar tornasse tudo ainda mais real. Mas você quer saber o que aconteceu, não é? Quer saber o que fez todo mundo olhar para o céu com olhos arregalados, o que fez o chão tremer sob nossos pés. Só que, no fim, mesmo que eu conte, mesmo que eu detalhe cada segundo, você não vai acreditar. E talvez seja melhor assim. Então é por isso mesmo que eu não vou contar, também, pra quê? Você não vai acreditar mesmo!