Crônica: O Mão

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O Mão
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Há em Formiga um empresário do ramo de pneus que é exemplo vivo de sucesso. Jadir Leal é o nome da pessoa.  Apelidado carinhosamente de Mão, dizem que se tem uma coisa que ele não faz de jeito nenhum é jogar dinheiro fora. Segundo o guarda-livros José Alencar, as histórias de Jadir são inúmeras. Tem uma que é ótima. Lá vai:

Para provar que o apelido de Mão é injusto, Jadir toma sempre uma cervejinha (só uma) no final da tarde. Dá seis horas, ele chega em casa, toma banho e vai até o Bar Pinheiro, que fica em frente ao Cemitério do Santíssimo, tomar uma Cintra geladinha (dizem que ele prefere marcas menos famosas por causa do preço, mas ele garante que é pelo sabor).

Durante toda uma semana, o empresário ficou descoroçoado com o fato de uma conhecida indústria da cidade estar lhe devendo uma boa quantidade de dinheiro. Ele vendeu um caminhão velho, confiou num amigo, mas não tinha jeito, mandava conta, fazia proposta de redução da dívida, e necas de recebimento.

Quando tudo estava praticamente perdido, o devedor manda avisar que pagaria a dívida com cal. Se Jadir quisesse, era só pegar não sei quantas toneladas, e ficavam quites.

E deu certinho. Em uma dessas coincidências que só acontecem uma vez na vida e outra na morte, ele recebeu o telefonema de uma indústria de açúcar de Ribeirão Preto, que estava precisando de cal com urgência. Foi ao seu devedor, pegou o produto e o repassou. Negócio à vista.

Naquele dia, era uma sexta-feira, ao chegar em casa, apareceu um mendigo pedindo esmolas e dizendo que tinha doença de sangue e que precisaria de viajar. Jadir pensou... pensou... e como o céu tinha sido generoso no caso da cal, tirou uma nota de cinco reais e deu para o pobre doente. O coração partiu, mas o dia era especial.

Entrou em casa, tomou banho e foi pro Bar Pinheiro. Lá chegando, pediu a tradicional Cintra pedrando.

__Não tem gelada não. Serve Bhrama ou Antártica?, perguntou Pinheiro.

__Eu gosto é de Cintra, pode ser quente mesmo.             

Quem estava perto até se assustou. Foi então que o Pinheiro brincou com ele:

__Vê se abre a mão, larga de ser munheca. Até aquele mendigo toma cerveja é gelada.

Quando Jadir olhou para o canto do bar, lá estava o doente de sangue comendo pastel e tomando uma Skolzinha até branca de gelada. Na hora, Jadir quis bater no pobre coitado, mas se conteve, porque a gozação seria grande demais.