Crônica: O comício
Manoel Gandra (de Formiga/MG)
O ano era 1970, e ele, o ourives, jornalista e radialista Claudinê Sílvio dos Santos, o homem dos três continentes (naquela época, ainda de um continente) resolve ser candidato a prefeito de Formiga.
Resistente à ditadura militar que assolava o país e torturava os jovens brasileiros, Claudinê procura espaço para chegar ao topo máximo do Poder Executivo da Cidade das Areais Brancas. Filia-se ao MDB, partido de oposição, e vai à luta.
Faz campanha, comícios, pede votos. Mas as urnas são abertas e os sufrágios são poucos. Arnaldo Barbosa é eleito e Claudinê não passa nem perto. Mas não havia porque desistir da política, afinal de contas o mandato seria apenas de dois anos (mandato tampão) e em 1972 haveria novas eleições.
O tempo passa rápido e logo chega o novo pleito. Já escolado, Claudinê pensa em uma campanha melhor organizada, com mais cabos eleitorais, com mais comícios... muito mais comícios.
Dessa vez, seu principal adversário seria o grande empresário Lufrido Nascimento de Oliveira e não poderia haver moleza. Começa a campanha e tudo vai às mil maravilhas, até que um comício muito bem organizado na zona rural, com banda de música, foguetes e charanga, dá errado, é um fracasso. Não aparece ninguém.
Desanimado, Claudinê põe a culpa na ditadura:
__Eu ia dizer poucas e boas dos milicos e eles impediram que o povo comparecesse.
Por onde ia, Claudinê dizia que a ditadura não queria vê-lo na Prefeitura, porque ele seria uma grande ameaça. Vêm as eleições e Lufrido é o eleito.
Meses depois, Claudinê descobriu o motivo do fracasso de seu comício na zona rural. É que ele foi realizado no distrito de Betânia. O grande radialista formiguense não sabia que Betânia não pertence a Formiga e sim à cidade de Pedra do Indaiá.