Crônica: A galinhada do Doutorzinho

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: A galinhada do Doutorzinho
Manoel Gandra é poeta e jornalista




José Rodrigues Assumpção é conhecido em Formiga como Doutorzinho. De estatura não muito alta, ganhou o apelido por ser doutor em simpatia e em dedicação por causas comunitárias.

Católico fervoroso e devoto de São Geraldo, Doutorzinho foi convocado por sua associação de bairro a vender ingressos para uma galinhada que aconteceria no Engenho de Serra. O dinheiro arrecadado serviria para as obras do Santuário que já estava no acabamento. Isso foi lá pelos anos 80.

Naquela época, tinha se mudado para Formiga uma família vinda do interior de Pernambuco à procura de emprego. Dizem que eram parentes do Belarmino da Prefeitura. Seu Arnaldino, o patriarca, era um mulato de 45 anos, muito forte, esposa Maria de Lourdes e duas filhas adolescentes.

Por coincidência, tal família também se curvava a São Geraldo e também no Engenho de Serra, perto do início da Avenida Mauro Leite Praça, fixaram moradia. Ao saber da chegada do pessoal, Doutorzinho resolveu convidá-los para a galinhada. Chegou e chamou do portão. Seu Arnaldino, que capinava uma horta de couve, saiu com uma enxada na mão:

__Que é que o senhor tá querendo?

__Eu vim aqui convidar para uma GALINHADA que vai acontecer...

Seu Arnaldino  não entendeu:

__O senhor tá me estranhando? Que GALINHADA o quê?

__É aqui perto, o senhor tem de levar sua esposa e filhas. O pessoal vai fazer a maior festa de ver gente nova...

Abrindo o portão da grade, o homem partiu pra cima de Doutorzinho.

__O senhor me respeite ou vou enfiar esta enxada na sua cabeça...

Juntou gente pra acudir. Foi um segura daqui, segura dali... Doutorzinho correndo feito doido... Seu Arnaldino igual doido batendo a enxada no chão e soltando faísca... custaram a acalmar o pernambucano.

Pra dar fim na pendenga, tiveram de chamar o Padre Alírio Petrini para contar para Seu Arnaldino que galinhada em Minas Gerais é festança com comes e bebes – onde tem muita galinha, mas daquelas de penas - diferente da galinhada em Pernambuco, que é “arruaça com vagabunda”.