Crônica: O entalado (ou enlatado)

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O entalado (ou enlatado)
Manoel Gandra é poeta e jornalista




O futebol é, sem dúvidas, o esporte mais popular de Formiga. Ele tem seus personagens que sempre aprontam.

Mafú, que de batismo é Enderson Eugênio da Silva (aquela enorme – 2 por 2 -  e simpática pessoa que fica na porta do Bradesco), é figurinha carimbada quando se trata de acontecimentos pitorescos. Como é um dos melhores goleiros que tem por aí, ele é sempre escalado pelas mais diversas equipes.

Era início de temporada e o juvenil do Nacional do Bairro Alvorada marcou um jogo na AABB (Associação Atlética do Banco do Brasil) contra um combinado do Água Vermelha.

Como não queria perder a partida, o Nacional, é claro, chamou Mafú para agarrar no gol. O jogo aconteceria em uma manhã de domingo e a diretoria do time contratou uma Kombi de um tal de Amador, que era chofer de praça, para levar o pessoal até o campo, que fica atrás do Posto Santa Cruz, na MG-050.

Na hora de sair, cadê o Mafú? Ninguém sabia. Correram atrás do Fofão, irmão mais velho de Mafú, que também é goleiro (só que não é dos melhores) e o levaram pra jogar.

Chegaram ao clube e estacionaram a Kombi longe do campo, na parte de cima da AABB. Quando já se preparavam para iniciar a partida, o técnico Otacílio ouve um grito de longe. Era Mafú que chegava de bicicleta.

__Corre lá na Kombi e coloca o uniforme. Já vai começar, ordenou o técnico.

Como o vestiário estava fechado, Mafú teve de obedecer e foi trocar de roupa dentro da Kombi do Amador. Entrou, fechou a porta, deitou o banco, pôs calção e camisa, mas, na hora de sair, a porta não abriu. É que sem querer, o empresário Antônio Cajuru, que ia assistir à partida, estacionou seu carro tão perto da Kombi que travou a porta.

Apavorado, Mafú começou a gritar. Como estava longe do campo, ninguém ouvia. Muito grande, o jovem goleiro tentou pular para o banco da frente, mas ficou entalado junto com o material de seus colegas.

O tempo foi passando e nada de Mafú aparecer para jogar. Fofão foi para o gol. Terminou o primeiro tempo e o sol começou a fazer da Kombi um forno. Terminou o jogo e veio a cervejinha. O Marquinho Cravo, que jogou pelo Nacional, tinha levado uma alcatra e logo deu um jeito de acender o fogo.

Foi uma festa: pinguinha no coité, braminha gelada, carne na brasa e Mafú assando dentro da Kombi.

Quando era quase uma da tarde, Otacílio chama a meninada pra ir embora. Cajuru vai junto. Ao abrirem a kombi, notaram que Mafú, puto da vida, pingava de suor. Como ele é muito grande, todo mundo saiu correndo, morrendo de rir. Correndo e morrendo de rir.