Crônica: O velório

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O velório
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Esta fazia parte do repertório do saudoso e insubstituível Comendador Osório Garcia. Ele jurava que era verdade, dizia que tinha testemunhas e quase morria de rir. Em dezembro de 1992, Osório chegou a registrar esta história em uma edição de “O Pergaminho”. Como ela é muito boa, merece ser relembrada.

Quem não conhece a Nininha Gomes? Eterna atleta, pessoa muito agradável, simpática e querida, ela espanta a tristeza dos lugares aonde vai. Freqüentadora assídua do Formiga Tênis Clube e do Country Clube, Nininha é motivo de orgulho para Formiga e exemplo de vitalidade para todos os jovens da cidade.

Eficiente diretora administrativa e financeira da Tipografia Carlos Gomes, como dizia o Comendador, a nossa personagem acabou sendo protagonista de uma cena, no mínimo, diferente.

Contava Osório, que, certa vez, faleceu uma grande amiga de Nininha. Era uma conhecida comerciante da cidade (que o Comendador não revelava o nome com medo de a família se ofender) e a comoção foi geral. Jovem, tal comerciante só não tinha mais amizade do que Nininha e o velório prometia ser muito concorrido.

Muito vaidosa, Nininha se arruma toda e segue para o “evento”. Lá, conversa com um, conta caso pra outro, muda de rodinha. E o tempo vai passando.

De repente, não mais que de repente, acontece um grave acidente: Nininha esbarra em uma cadeira que estava ao lado do caixão. Na cadeira havia uma ponta de prego que desfia a sua meia de seda, que ela tinha comprado de manhã em uma liqüidação de peças com pequenos defeitos na loja da Drogaria Santa Maria. Revoltada, Nininha reclama bem alto:

__Ah, meu Deus! Vou-me embora, perdi a graça!