Opinião: CONEXÃO MARACUTAIA cap. 1/4

AC de Paula (de São Paulo)

Opinião: CONEXÃO MARACUTAIA cap. 1/4
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




A cidade de Maracutaia do Sul, capital do estado do mesmo nome é a locomotiva que puxa o trem do progresso do País das Maravilhas e nas teias de suas tramas, que literalmente enredam entre elos paralelos os seus personagens em relações construídas entre pessoas e coisas, no contexto desta paisagem vamos encontrar entre outros, dois amigos vindos do nordeste para engrossar o contingente de mão de obra da construção civil.

Raimundo, baiano de 25 anos, moreno, cabelos lisos, olhos claros, alto, sem religião definida, astuto, egoísta, obstinado e oportunista já está convencido de que não tem a paciência e nem o conformismo do amigo Severino para suportar aquela vidinha sofrida e cheia de privações, monótona e sem perspectiva. Ele quer conquistar o sucesso à qualquer preço e acha que o homem faz o seu próprio destino e quer vencer na vida não importa como, tem como lema a frase de Rui Barbosa, que repete como um mantra “de tanto ver triunfar as nulidades o homem chega a ter vergonha de ser honesto”

Divide um quartinho com Severino na própria obra em que seu primo é encarregado e convive com os colegas de trabalho apenas o necessário profissionalmente. Estudou até a quarta série, mas sabe ler muito bem, na matemática se vira razoavelmente, dá para além do gasto.

Quando moleque lá na sua terra, vivia dizendo que um dia iria brilhar feito estrela, afinal o famoso cantor baiano já havia dito que “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome!” e para brilhar era preciso chegar ao sul maravilha, afinal Maracutaia era o caminho do sucesso. Ele tanto sonhava, tanto falava que acabou sendo apelidado de Raimundo Maracutaia!

É materialista ao extremo, não tem namorada fixa pois não quer mulher grudada no seu pé feito papel de bala, dedica boa parte do seu tempo livre à leitura de livros de autoajuda que comprou com o dinheiro do primeiro salário, sua ambição não tem limites.

Severino, no entanto, é o conformado trabalhador braçal que se contenta com o simples fato de estar vivo, operário exemplar recebeu com orgulho seu título de Rei do Andaime, e foi atendendo um pedido seu, que Valdete sua namorada apresentou Raimundo ao seu patrão o doutor Pedro Caio um  empresário que tinha ligações perigosas com corretoras de valores, políticos de prestígio, coordenadores do erário público, investidores, fraudadores da previdência, e outras atividades com fachada de legalidade, que o contratou para serviços diversos não determinados.

A vida de Raimundo mudou da água pro vinho em muito pouco tempo, e na sua busca insana e constante do sucesso a qualquer custo, ele foi passando e pisando por cima de tudo e de todos. Continua...