Crônica: Pedido difícil

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Pedido difícil
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Um dos motivos de o distrito de Pontevila estar sempre fazendo parte do roteiro turístico de Formiga é que lá os comerciantes são dos melhores. O atendimento é personalizado, e os preços, os mais baratos.

Um dos mais tradicionais vendeiros da localidade é o Joaquim, esposo da Dona Olga. Sempre muito prestativo, ele mantém em seu estabelecimento (uma mistura de bar, restaurante, açougue e armazém) uma enorme diversidade de ofertas. Quem vai para os balneários do Lago de Furnas não precisa nunca de levar nada, é só passar na Venda do Joaquim, que a coisa é sortida.

Dedicação mais preços baixos é igual a aumento de freguesia. A venda foi lotando e os negócios crescendo, todo final de semana aparecia gente nova. O número de turistas era grande, e Joaquim foi fazendo novas amizades. Passou a conhecer muita gente de Belo Horizonte e do interior de São Paulo. Quanto mais pessoal de fora, mais novidades na venda. Todo dia apareciam novos e diferentes produtos nas prateleiras.

Era uma véspera de finados, feriado prolongado, e toda hora parava um carro na porta. Muito eficiente, Joaquim dava conta do recado, preferência para quem chegava com a lista pronta na mão. Arroz, feijão, macarrão, cerveja... Joaquim e Dona Olga servindo de tudo (sempre com aquele precinho...).

Tudo às mil maravilhas, balcão cheio, freguesia satisfeita. Menos um rapaz impaciente que ao fundo fazia um insistente pedido em voz mais alta:

__Ô Joaquim, me atende sô... pega um Saint Remy pra mim? Ô Joaquim, um Saint Remy...

Doido pra ficar livre do incômodo, Joaquim saiu e foi procurar. Olhou no balcão, procurou no depósito, olhou nas prateleiras e não encontrou nada parecido:

__Num tem não, só tem Clozape e Kolinos. Essas marcas difícil só tem na Drogaria Santa Maria, lá na Formiga.

Depois daquele dia, nunca mais faltou do aperitivo na Venda do Joaquim.