Crônica: Procurando emprego

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Procurando emprego
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Existe no Bairro da Chapada um dos mais eficientes, dedicados e afamados pintores de Formiga, ele é o Adauto Bitencuort. Esta brincadeira fazem com ele.

Sambista e músico talentoso, Adauto faz rodinhas e é pessoa extremamente gabaritada no trato com os amigos (dizem que em seu enterro terão de ser feitas duas viagens para que todos os que gostam dele, que são inúmeros, possam render-lhe homenagens).

Nos anos 70, a Etege, uma empreiteira que prestava serviços para a Construtora Andrade Gutierrez, começou a contratar funcionários que deveriam trabalhar no recapeamento da Rodovia MG-050, no trecho que liga Formiga a Piumhi.

Na fila para a entrevista, um vizinho de Adauto (pessoa de confiança) dormia em uma cadeira encostada na parede. Chama um, chama outro, e ele roncando. Quando foi sua vez de ser atendido pelo senhor que fazia a ficha, o vizinho de Adauto teve se ser cutucado.

Assustado, levantou-se e ficou em frente à mesa. Era um bocejo atrás do outro. Levantava os braços, espreguiçava, fechava os olhos, bocejava, fechava os olhos, espreguiçava... e o homem a postos para preencher a ficha foi ficando implicado. Mas não tinha jeito. O cara espreguiçava, bocejava, esticava os braços... e o senhor foi ficando mais implicado...

__Ô meu jovem, dá para ficar quieto?

__Ahhhh... é que eu tô com sôôôno!!!

__Nossa, que preguiça. Pode ir embora que eu não vou contratar você não, eu nunca vi alguém mais preguiçoso.

__Mas o emprego não é pra mim não, seu moço. É pro Adauto, meu vizinho.

__E cadê ele?

__Ele ficou em casa dormindo...

Não teve jeito: o recapeamento da MG-050 não pôde contar com o maravilhoso trabalho de um dos mais competentes profissionais de Formiga.