Cronicando: Sirene
Robledo Carlos (de Divinópolis)

São em manhãs de súbito
que invades o meu silêncio.
Arrancando-me de sonhos profundos
em belvedere de vista e júbilo.
Alcanças esplanada em olhares findos.
Rompe o céu em afiadas arapongas,
com sons metálicos de sinos e capelas.
Nem esperastes o beijo de despedida
daquela que, no sonho, era a mais bela.
Amanhã, quem sabe, eu possa
por cansaço ou insistência,
que volte meu sonho nesse instante
quando eu estava tão próximo à tua boca e carícia.
Ainda ouço esvaindo,
assim como em um suspiro
deixado pelo som da sirene,
meu coração em desalinho.
Talvez eu esteja enganado,
de tudo que no sonho houvera
tenha o despertar da sirene,
a salvar-me de algum algoz inimigo
ou mesmo de um amor perene
daquela linda donzela.
Noites virão no seu descanso,
que eu possa acordar com o beijo dela
sentindo seus lábios macios
do lado esquerdo de meu flanco.
Com o vento fluindo a cortina,
vendo-a abrindo a janela.
Voltasse essa cena do sonho,
assim como em cena de novela,
quebrada num canto do quarto,
a sirene com um porrete na guela.