Opinião: A MORTE QUE NOS RODEIA

Eduardo Ribeiro (de Formiga)

Opinião: A MORTE QUE NOS RODEIA
Eduardo Ribeiro de Carvalho é membro da Academia Formiguense de Letras




O homem já inventou os supercomputadores, os ônibus espaciais que provavelmente nos levarão universo a fora, a telefonia celular que funciona sem fio e centenas e centenas de outros equipamentos e bens de uso geral e até já pousou na lua, nosso belo satélite natural. Pelo andar da carruagem, temos certeza que as possibilidades de conquistas, descobrimentos e invenções dentro do mundo físico apresentam-se infinitas para o ser humano. As matérias-primas que estão por aí em abundância são inextinguíveis. Fala-se muito sobre uma provável destruição da terra por efeitos atômicos; também do esgotamento de várias substâncias que hoje são utilizadas em importantes inventos do homem, como por exemplo, o petróleo, cujos derivados são largamente utilizados em automóveis e outras máquinas. Verdade é que todo material sólido, pastoso ou líquido, ou seja, não importa o estado em que se encontre, pode ser substituído por outro. Sempre se achará uma outra solução. Veja o caso do combustível. Antes só se falava em petróleo. Hoje nós já temos o álcool, a energia elétrica, a solar, o gás natural, etc. E quando eu falo em inextinguíveis, estou querendo dizer que o homem irá recompor, através da ciência, todo tipo de matéria criando-as novamente, com grande rapidez, utilizando-se das mesmas substâncias em que foram formadas pacientemente pela natureza. E essas substâncias estão armazenadas em outros planetas, em quantidade equivalente à própria infinidade do universo. Bom, nesses tempos modernos, a nossa civilização atingiu um desenvolvimento assaz impressionante. Temos os aviões supersônicos e até os chamados invisíveis. Os navios transatlânticos, trens balas, automóveis de última geração que possuem velocidade, conforto e segurança além de lindas formas. Os shoppings centers oferecem aos seus consumidores tudo que é necessário para facilitar o nosso dia-a-dia, decorar nossas casas cada vez mais luxuosas, oferecendo-nos a possibilidade de montarmos ambientes altamente saudáveis e confortáveis. Na área de diversão e lazer, temos as mais variadas alternativas: os filmes que são exibidos em modernos cinemas com ar refrigerado, são feitos com o que há de melhor em efeitos especiais, transportando-nos a um mundo mágico e cheio de surpresas e emoções fantásticas. As áreas criadas para divertir, como a Disneylândia nos Estados Unidos da América, atendem a todos os gostos possíveis. Os aparelhos eletrônicos e outros moderníssimos sistemas nos trazem o som “laser” - puríssimo, os videocassetes, os microcomputadores, as televisões a cores com controle remoto e som “estéreo”, etc. O futebol, o voleibol, o basquetebol e outros esportes são praticados em estádios que são verdadeiras obras primas da construção, conseguindo agrupar em seus interiores até mais de cem mil torcedores. Os bares, boates e outros tipos de casas de “shows” são construídos para oferecerem espetáculos de toda ordem e são assistidos, juntamente com a degustação de extensa variedade de bebidas e iguarias para todos os paladares. Tudo isso que foi dito, é apenas uma pequena parte do nosso progresso, cuja evolução diária nos assusta e ao mesmo tempo nos extasia. O universo, fonte inesgotável de matéria e energia, está à disposição da inteligência humana e pela estrutura que atingimos podemos bem imaginar o que alcançaremos em um futuro próximo, com o controle de tecnologias até então inimagináveis. Dele, podemos continuar a retirar, transformar e criar infinidades de bens, cada vez de forma mais eficiente. 

Muito bem! Tudo isso é atraente e maravilhoso e seria suficiente para nos trazer alegria e enfim a tão almejada e decantada felicidade, se não fosse por causa de apenas um imenso, insuperável e temido motivo:

- A morte infalível a que todos estamos sujeitos.

Por isso um filósofo moderno disse que o progresso do homem, com toda a tecnologia aplicada, não passa de uma ilusão! Tudo que nós construímos anima a vida, mas, também, tudo é em vão perante a morte. 

 Sejamos feios ou bonitos. Bons ou maus. Pobres ou ricos. Ateus ou religiosos. Ela chega. Ela, a senhora morte por si só já é terrível, entretanto, o conhecimento que o ser humano tem dela piora e muito a situação. Sabedores que somos de sua existência é muito comum provocarmos em nós mesmos uma gama de sentimentos negativos em relação a ela, que pode nos levar e realmente leva muitas pessoas a isso, a sofrimentos profundos e bastante dolorosos, criando em nós doenças fictícias, geralmente de cunho nervoso, enchendo a sala dos profissionais da área de psicologia e psiquiatria. O medo antecipado da morte é mil vezes pior do que a própria. Quantas pessoas não vivem em pânico diário sentindo que, por qualquer coisa, está prestes a morrer! Não fosse pela morte certa, o homem fatalmente não se embrenharia por caminhos meditativos, comumente negativos; não perderia anos e anos a fio a observar os fenômenos físicos na tentativa de encontrar alguma luz que o leve a esclarecer os mistérios da vida. Fosse o homem eterno, quem se habilitaria a gastar energia e tempo com assuntos incompreensíveis. Bastaria aproveitar o viver, que é muito prazeroso. Alguém disse que viver dói. Concordo só em parte com essa afirmativa. Claro que quando estamos acometidos por alguma doença, ou algum acidente, nós sofremos as dores provenientes, mas fora isso, sentimos grande prazer em viver. Se assim não fosse, haveria mais gente querendo morrer do que continuar vivendo! O que não é o caso. O que acontece é que comumente a própria pessoa é que estraga esse prazer, conforme já disse, com pensamentos e toda uma parafernália de comportamentos equivocados. A gente observando o jeito de viver dos animais, dos pássaros e outros viventes, podemos notar com clareza que eles são tranquilos e felizes por simplesmente viver. Como não possuem a inteligência, a consciência que o homem tem, vivem sem se censurar, sem pensar na morte. A própria existência os satisfazem plenamente. Eles não sofrem de antemão como nós. Ao contrário de nós humanos, que temos o conhecimento da morte e a certeza de termos de passar por ela algum dia, mais cedo ou mais tarde. Que a cada ano que vivemos a sua presença vai ficando mais próxima, agigantando-se à nossa frente.

Será que o homem algum dia vencerá a morte? É mais certo que não. Não vencerá. O ser humano poderá com certeza prolongar a vida. Coisa que já faz ultimamente com a invenção de vacinas, remédios e cirurgias corretivas que curam várias doenças que nos assolam e que nos levariam à morte se não fossem levadas a efeito. Contudo, mesmo que consigamos através de recursos que ainda serão criados, viver mil anos, a morte ainda nos pegará de qualquer maneira. É coisa de Deus.

Vejamos o que algumas personalidades disseram sobre ela:

Montaigne – filósofo francês – “quando julgamos o ânimo que alguém demonstra no momento da morte – o mais importante por certo da vida humana – devemos levar em conta que raramente alguém pensa ter chegado a sua hora. Poucas pessoas morrem convencidas de que estejam nos últimos instantes, e não há a cujo respeito a esperança nos iluda tanto -não cessa de nos assoprar aos ouvidos: outros estiveram bem pior e não morreram; a coisa não é tão desesperadora assim; ademais, Deus fez outros milagres”. 

Plínio - filósofo – “uma morte rápida é a grande felicidade da vida”.

César – imperador – “a morte desejável é a menos premeditada e mais rápida possível”.

José Alencar – Ex-vice-Presidente do Brasil, que já não está entre nós, falou nas televisões e rádios, para todo o Brasil escutar –“eu não tenho medo da morte, eu não a conheço, só tenho medo daquilo que eu conheço” e disse também - “se Deus quiser me levar Ele não precisa de um câncer para isso, e se Deus não quiser me levar não é o câncer que o fará”. 

Anton Tchekhov, célebre escritor russo, antes de morrer aos quarenta e quatro anos de idade, sentou-se em sua cama com um copo cheio de champanhe em uma de suas mãos e disse em voz alta para sua esposa que estava de pé ao seu lado – estou morrendo! Logo em seguida bebeu tranquilamente todo o líquido do copo, deitou-se em silêncio e alguns instantes depois, morreu. 

A morte é uma certeza absoluta para o ser humano, se concretiza após a falência do nosso corpo, falência esta, provocada por um ato de agressão externa ou interna. Se externamente, por algum acidente que interrompa o organismo vivo de funcionar. Muito comum hoje em dia as mortes por acidentes nos meios de transportes, como o carro, ônibus, motos e aviões, etc. e as mortes provocadas pelas armas de fogo, facas, etc. e catástrofes naturais, como deslizamentos de terra, terremotos, vulcões, furacões, etc. Se internamente, por mal funcionamento de alguns dos órgãos componentes do nosso corpo, como o coração, fígado, rins, etc. que também interrompa o nosso mecanismo de vida.  

Pois bem, a morte em si, parece ser um instante, uma passagem de um estado para outro, talvez até imperceptível, como disse o escritor José Saramago, o dono do prêmio Nobel da literatura, que infelizmente também já não está entre nós: “num momento estamos aqui no outro não”.

Espero que seja assim.

Todavia, se não tomarmos cuidado o fantasma da morte passa a nos assombrar tanto, que a própria vida fica insuportável.