Opinião: A ARTE
Eduardo Ribeiro (de Formiga)
A arte de fazer arte parece que já nasceu junto com o ser humano. Dentro dele, vamos assim dizer. Em tempos antigos, logo que o homem tomou conhecimento de si mesmo e do mundo ao seu redor, ele sentiu necessidade de colocar para fora de seu âmago o que o estava apertando, esmagando o seu peito, sentimentos de todos os tipos - alegres, tristes, amargos, dentre outros, os quais ainda não eram totalmente definidos ou explicados na época. Muito tempo depois os filósofos, principalmente, os gregos, procuraram cumprir esta tarefa, esclarecendo cada um deles, o que eram e porque surgiam. Fato é que os chamados homens das cavernas já riscavam nas paredes em sua volta, desenhos, muitas das vezes, de forma rebuscada, tudo aquilo que existia em sua frente - animais, flores, eles mesmos, sozinhos ou em grupos, caçando, brincando, comendo ou guerreando, no ensejo de deixar registrado as maravilhas que viam para, talvez, seus filhos e netos. Estes ornamentos, podendo assim dizer, chegaram até aos tempos de hoje, e atraem os olhares curiosos dos turistas do mundo inteiro.
Com o andar dos tempos, a arte não parou de crescer. Crescer e diversificar. Surgiram no mundo artistas de todos gêneros. Gigantes naquilo que faziam, mostrando talentos que deixam a própria humanidade de ”boca aberta e queijo caído” tal é o grau de perfeição de suas criações artísticas. Temos telas pintadas por artistas que são admiradas por todo mundo, tanto em museus quanto em casas particulares, cujos donos podem comprá-las a preços orbitantes. Temos artes de domínio público como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, a Torre Eiffel em paris, a estátua da liberdade nos Estados Unidos, e várias obras espalhadas por todos os países do mundo.
No entanto, o difícil mesmo é preservá-las.
Todo esse patrimônio cultural, elaborado pela humanidade, é também alvo de destruição pela própria humanidade que os criou. Como se não bastasse os efeitos danosos que o tempo que faz acontecer em tudo que o homem constrói, como por exemplo, as ferrugens, o mofo, a poeira, a umidade, a gordura e sujeira das mãos que as manipulam, tudo apodrece. Há também as ações de pessoas ou grupos de pessoas, que desejam o mal, e que colocam em suas vidas o objetivo de destruir tudo que o homem moderno fez ou está fazendo, incluindo aí não só as artes propriamente ditas, mas, prédios ou qualquer construção comum, sem conotação artística, e se possível abrigando o maior número de pessoas inocentes, para que o estrago seja bem sentido por todos.
Terrorismo puro.
Então, conservar artes hoje em dia, é quase uma missão impossível.
E deve ser mesmo. Pois, aqui na cidade de Formiga, cidade média situada no Centro Oeste do Estado de Minas Gerais, Brasil, que também possui algumas obras de Arte, vide o nosso Cristo Redentor todo garboso lá no alto do Morro do Santa Tereza, com os braços abertos a exemplo do que existe na cidade maravilhosa, em menor tamanho do que aquele, com menor fama também, mas, tão adorado pelos fiéis como se o outro fosse, e, também temos vários objetos de arte, que não vou citá-los agora, menos um, que embora seja pequeno, quase sem importância nenhuma para a maioria das pessoas, mas que me tocou a consciência quando percebi, o quanto nós somos desleixados com as coisas públicas, que afinal de contas são feitas, cada qual com sua função específica, para o uso de todos.
O caso é o seguinte: entre as pontes do Banco do Brasil e a do Engenho de Serra, ambas atravessando o nosso querido e amado Rio Formiga, tão judiado hoje em dia, não só pelas autoridades, mas, também pela incontrolável natureza, que não o abastece como antigamente, com águas abundantes, levando-nos a temer que em épocas de estiagem ele venha a secar totalmente, foi feita uma calçada, ou como alguns preferem dizer, um passeio, coberto com aquelas famosas pedrinhas portuguesas, que são tão utilizadas para esses fins, não só no Brasil como em todo o mundo, e vejam só: alguém do serviço municipal teve a brilhante ideia de ao longo do calçamento do passeio, implantar em pedras pretas, rodeadas pelas pedras beges, a figura de uma formiga, talvez, não sei, com um metro e meio de comprimento. Quem fez a obra, fez com muito capricho, elas ficaram muito certinhas e bem realçadas, uma beleza de se admirar, não só pela obra como também pela criatividade de quem as idealizou. Fato é que de espaço em espaço, em fila indiana, como elas mesmos gostam de andar por aí, levando e buscando suas folhinhas para o formigueiro, lá estão as formiguinhas desenhadas no chão, para ser admiradas por aqueles que gostam de uma boa arte.
Ótimo, que beleza, que maravilha! Só que não.
Como falei anteriormente, a arte precisa de manutenção permanente. E as ditas formiguinhas estão lá no local sem o menor cuidado de quem as possam proteger. E o tempo é cruel, devasta tudo e todos. Quem passa hoje pelo local pode ver. As pedrinhas pretas soltaram e ainda estão se soltando. Fato é que tem formiga sem cabeça, sem pernas, sem corpo, sem patinhas, e, etc. Parecem que foram mutiladas por um grupo inimigo. E o que é pior, alguém teve a brilhante ideia de tapar os buracos existentes nas figuras, com cimento. O cimento não combina nem com as pedrinhas pretas, nem com as pedrinhas claras, de cor creme, parece. Sou daltônico não distingo bem as cores do mundo. O cimento escureceu, e ficou sujo, de forma que a parte da formiguinha que está faltando se transformou numa mancha preta. É muito triste ver uma obra que, com certeza, foi idealizada com muito carinho e atenção, por quem a mandou fazer, do jeito que está.
Um verdadeiro circo dos horrores, ou coisa semelhante.
Espero que eu possa ver, em um futuro próximo, todas aquelas formiguinhas recuperadas e bem de saúde, para a felicidades de todos nós.