Opinião: Desigualdades

AC de Paula (de São Paulo)

Opinião: Desigualdades
AC de Paula é dramaturgo, poeta e compositor




O assunto é importante e atual apesar de paradoxalmente ser um filme antigo reprisado à exaustão no nosso dia a dia, evidenciando as mazelas tatuadas na pele e na alma de muitos brasileiros, e ocorrem nos esportes, na vida social, no trabalho, e muito modernamente nas redes sociais. Brasil - 100 anos de Negritude Olímpica” (A trajetória de Alfredo Gomes) é meu novo livro que será lançado em breve, e que conta a trajetória esportiva do Pioneiro Olímpico Alfredo Gomes, primeiro atleta negro brasileiro nos Jogos Olímpicos-Paris de 1924, e, para contextualizar o cenário em que o atleta estava inserido no ano de 1919, quando trocou o futebol pelo atletismo, resgata fatos históricos ligados ao negro brasileiro no futebol, onde o racismo era evidente e sistemático, a ponto de o presidente Epitácio Pessoa, proibir a convocação de jogadores afrodescendentes para defender a seleção brasileira. 

Claro que se craques como Pelé, Dida, Garrincha, Didi, Djalma Santos, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Coutinho, Reinaldo, e tantos outros, tivessem surgido à época da infeliz decisão presidencial, jamais teriam tido a oportunidade de encantar o mundo com seu talento incontestável, envergando o glorioso uniforme da seleção canarinho. Não sei qual o motivo que fez com que meu avô Alfredo Gomes mudasse de esporte, mas seja qual tenha sido a razão, a escolha teve um ótimo resultado, já que ele se tornou o principal atleta dos anos de 1919 a 1930, e venceu, além da Primeira Corrida de São Silvestre que lhe trouxe notoriedade, a maioria das provas das quais participou, além de se tornar recordista brasileiro nos 5000m e 10.000m. 

O livro homenageia também todos os atletas afrodescendentes que em diversas modalidades olímpicas, destacaram-se e não pouparam esforços em busca de seu objetivo, quer seja pelas conquistas de medalhas, quer pelo seu empenho na tentativa de consegui-las, ou pela sua atitude, postura e consciência social e política, que de alguma forma deixaram suas marcas na história. Os próximos Jogos Olímpicos em Paris 2024 marcarão o primeiro centenário da participação de Alfredo Gomes nas Olimpíadas, depois dele, como já relatei, muitos atletas afrodescendentes se destacaram nesta prestigiosa competição e em diversas modalidades esportivas.  

Este livro foi calcado em fatos reais e escrito por um poeta observador, escravo das emoções, e de forma embrionária é um texto de carne e osso, de caras e bocas, de gritos sufocados, conflitos não resolvidos, sem grilhões, liberto, liberado, e libertário, que sem o aroma do incenso dos acadêmicos das palavras, fala de fatos multifacetados, cacos do cotidiano retratando uma poética não rebuscada, mas de grande carga emocional essencial à percepção da fragilidade, uma poética pé no chão, irrestrita, profunda em sua essência, explícita, sem necessidade de consulta ao dicionário, sem citações canônicas. É uma narrativa simplesmente impregnada de sensibilidade acima de qualquer suspeita. Um texto preto no branco e de aura multicolorida que lamenta as mazelas sem cura, e que sabe que o preconceito na verdade é o chicote ou o cinto, que estala na pele escura, e que a violência existe. A injustiça ainda perdura, se renova e se repete, numa ida ao mercado, ou no esquisito da quebrada, no lombo da molecada do baile da DZ7, pois é assim que a banda toca. 

Outro fato lamentável ocorreu em 10 de Setembro de 2022, quando Alessandra  ex-jogadora de basquete  medalhista olímpica de prata em Atlanta-1996, e de bronze em Sidney-2000, além de campeã mundial na Austrália, em 1994, denunciou  um caso de racismo sofrido por ela na Zona Oeste de São Paulo, no bairro do Butantã, quando a caminho do colégio em que ministra aulas na região do Morumbi, sofreu descriminação racial por parte de quatro taxistas que  se recusaram a atendê-la, numa patente atitude que sem dúvida alguma foge ao chamado normal, e tem nome e sobrenome: preconceito estrutural.  

É bom lembrar Marielle, João Alberto Silveira Freitas, mesmo indo na contra mão do que afirmou o nosso ilustre ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão no Brasil não existe racismo, isso é uma coisa que querem importar aqui pro Brasil, isso não existe aqui, o que existe no Brasil é uma brutal desigualdade aqui, fruto aí de uma série de problemas.”  No próximo dia 25 de Março farei uma palestra no SESC ITAQUERA / SP, onde abordarei alguns tópicos de destaque sobre este tema, pois o conteúdo de um livro de 250 páginas não pode ser esgotado em apenas cento e vinte minutos de palestra. O livro está em pré -venda com frete grátis na www.baudopoeta.lojavirtualnuvem.com.br . acdepaula09@gmail.com .