Opinião: Formiga e o que se sabe

Lúcia Helena Fiúza (de Belo Horizonte)

Opinião: Formiga e o que se sabe
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Que a gloriosa FAB (Força Aérea Brasileira) jogou bombas em Formiga, a cidade está careca de saber; que uma das últimas sentenças cumpridas de pena de morte no Brasil aconteceu no Bairro do Rosário, todo mundo tem ciência; que Formiga foi a primeira cidade da América Latina a ter um aparelho de Raio X, está em todos os livros de faculdades de medicina que têm a especialização.

Que Formiga já teve um ministro da Educação e Saúde (Washington Ferreira Pires), que a cidade já teve um presidente da Caixa Econômica Federal (Olinto Fonseca Filho), que o último escritor agraciado com o Prêmio Camões, o maior prêmio de literatura em Língua Portuguesa (Silviano Santiago), é formiguense, que foi um morador das Areias Brancas (Chico Diabo) que matou o presidente do Paraguai (Solano Lopes) durante a guerra, que já teve um cidadão que nasceu na Rua Silviano Brandão (Roberto Macedo) que chegou a ser responsável pela política econômica do Governo Federal e que Doutor Teixeira Soares é um dos mais importantes engenheiros ferroviários que o mundo já conheceu, a revista “a par” já publicou e registrou.

Também é público e notório que um dos maiores compositores da história da música sertaneja é formiguense (Nonô Basílio), que o padre mais famoso do país é do Quinzinho (Fábio de Melo) e que o mais importante fabricante de roupas de grife no país (Nelson Alvarenga) é de família de Pontevila.

Contar que a Igreja Matriz de São Vicente Férrer é considerada a oitava mais bonita de Minas Gerais, que seu órgão de tubos é dos maiores do país e que a Dona Beja (aquela mesma de Araxá) é formiguense, nem é de fazer questão.

O que é preciso contar são outras histórias que estiveram na boca do povo, mas que andam sumidas. Ninguém mais fala de uma plantação de maconha que na década de 1970 a polícia descobriu no morro do Cristo. Era só maconheiros atravessarem a linha onde hoje há uma trincheira e fazer a colheita (sóóó). A coisa durou muito tempo. E aquela de um malucão que morava na Rua Bernardes de Faria que colocou LSD no café da manhã do pai só para ele ver como o “barato” era um barato, quem se lembra? Foi um ba-fa-fá danado.

Na Rua Floriano Peixoto, um caso macabro. Em um hotel que existia quase chegando na linha, descobriram um cemitério de fetos de abortos clandestinos que eram realizados no local. Deu até na televisão. Na década de 1980, na Rua Santo Antônio (Quintino Bocaiúva), onde funcionava a zona boêmia, um empresário desmanchou uma casa que havia comprado. Quando os pedreiros deixaram cair a chibanca, uma parede falsa foi descoberta, dentro dela, uniformes do exército alemão, capas de chuva com a suástica e até uma pistola. O material foi levado para Campinas-SP e nunca mais houve notícia.

E as vezes em que formiguenses ganharam a sorte grande na Loteria Federal, meteram o pau no dinheiro e voltaram à estaca zero? Tem um que morava na Praça da Matriz que bem me lembro. E história de ex-servidor público que ganhou na mega sena e “avisou” ao gerente da Caixa das consequências que haveria se ele contasse? Deixou os filhos ricos e pouca gente sabe. Era muito amigo do meu pai. E aquele mal contado incêndio na tesouraria do time do Formigão logo após o sucesso de 1968? Lembro-me de contarem que foi justamente quando os craques foram vendidos. Necas de lucidez.

Sobre os empresários e agiotas formiguenses que “deram o cano na praça” e que sumiram para sempre, pensei em falar, a lista é grande, daria um livro grosso. Mas como dizia minha mãe, “quem não pode com formiga não assanha formigueiro”. Vou deixar quieto.