Poema: Faroeste
Ana Pamplona (de Formiga)
Saiu em desabalada carreira
sem olhar para trás,
para não matar
o casal infame.
Correu, correu.
Olhos crispados,
a boca arreganhada.
Tropeçou.
O chapéu voou para longe.
Caiu com a cara
no chão.
A boca cheia
de poeira e sangue.
Sentiu o gosto de ferro
e o lábio latejando.
Juntou forças,
sentou sobre a terra bruta,
respirou longamente
o ar seco que lhe
ardia nas narinas.
Algo lhe vem à cabeça.
Queria gritar
mas ao invés disso
recitou em voz rouca
e baixa:
“Meu primeiro amor, meu bem querer
você me traiu e logo com quem
Mas eu te garanto meu bem
Não é disso que eu vou morrer!”
Repetiu os versos muitas vezes.
Na última, gritou bem alto.
O vento respondeu
arrastando o chapéu
em direção a ele,
como a dizer:
“É assim que da DOR
nasce um poema”
Ele entendeu e colocou o chapéu.