Poesia: Conchas

Robledo Carlos (de Divinópolis/MG)

Poesia: Conchas
Robledo Carlos é representante comercial




Sentei-me ao lado de um bar à beira mar.

Era tudo muito simples e eu sentado pra não serventia.

Queria mesmo era ouvir um violão que tocava ao lado, muito baixo, quase não conseguia ouvi-lo, pois o que traziam em bandejas eram sons mais apurados em minhas buscas.

Tirei o chinelo Havaianas já bem gasto pela pisadura e observei meus pés sob a areia da praia.

Muitas conchinhas que em minha infância tornariam moedas em escambo.

Havia muitas sob meus pés!

Uma bicicleta para agora ao meu lado, um cara de cabelos descoloridos pelo sol e pele gasta ao sofrimento, ou talvez eu desatento, só mesmo ao relento e ao sol.

A bicicleta, carcomida em ferrugem, de selim com capa do flamengo e uma cesta de plástico amarada a transportar miúdos.

Hoje tinham peixes, que eram vistos com facilidade junto com algumas verduras.

Volto minha visão para meus pés e ouvidos para o violão.

Nesse instante para ao lado da bicicleta do caiçara, uma linda mulher.

Uma bicicleta moderna, tinha um farol e luz de alerta traseiro.

De cor creme, ela de cabelos amarrados com fita amarela.

Ela não me parecia ter posses, era simples, mas o conjunto era mágico e belo.

Devia ter uns trinta e poucos anos, me lembrei de imagens francesas, de mulheres lindas, que em cestas, carregavam lavandas.

Nostálgico e cinematográfico!

Tudo para nesse instante sob as conchas e as bicicletas.

Igual as conchas sob meus pés que conheceram as profundezas dos oceanos, tiveram as mais lindas imagens que um homem jamais poderá ter, estavam ali agora, diante de mim em desleixo, quebradas e sem vida.

Qual a diferença entre elas agora e que em breve estarão em pó?!

O caiçara e a bela, ambos lindos, de igual semelhança aos olhos das conchas.

Eram assim vistos pelas conchas!

Era tudo igual, as conchas, as bicicletas, a bela e o caiçara.

Mas parece que Deus ouvia era o violão.

A Seus olhos… todos eram conchas.

De tamanha importância da ferrugem e da beleza, das profundezas e da simplicidade dos olhos de Deus.