Todo mundo de olho em todo mundo

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Quem não conhece a história da Justiça Eleitoral não sabe o quanto ela evoluiu e se tornou mais inteligente. Antigamente, as coisas eram muito mais complicadas e ser diretor e presidente de partido era muito mais cansativo do que ser carregador de malas sem alça em plataforma de trem.

Para impedir qualquer tipo de fraude, a Justiça era obrigada a mandar observadores oficiais para todas as convenções e eles tinham de elaborar relatórios minuciosos e denunciar qualquer ato que acreditassem irregulares. No final, se houvesse algum alcaguete disposto a apontar qualquer suspeita de falcatrua, ele era taxado de vendido para uma outra ala política. Em cidade de pequeno porte, virava um desonesto maior do que qualquer outro desonesto, um legítimo golpista.

Em Formiga, os fiscais nomeados tiveram muito trabalho durante anos. Os partidos não redigiam suas atas após as convenções e em cozinhas de esconderijos mudavam os nomes dos candidatos depois do prazo legal; comícios anunciavam sorteios de fogões, televisores e geladeiras para atrair público e guarda-costas armados eram contratados. 

Certa vez, em uma reunião no Centro Operário um dia antes da data das eleições, um falecido advogado fez uma preleção aos correligionários enumerando os crimes eleitorais, que iam desde boca de urna a tirar santinhos na mão do eleitor e dar murros nele. Seu discurso foi assim: “Todo mundo já sabe o que não se pode fazer amanhã, mas esqueçam, amanhã vale tudo, só não vale perder a eleição. Qualquer crime que vocês cometerem e forem presos, eu tiro da cadeia. O que não pode é perder a eleição”. Um observador eleitoral, que também era oficial de Justiça, estava presente, viu tudo e ficou calado. Não foi doido de denunciar. O candidato, é claro, foi eleito. 

Agora tudo mudou, a Justiça viu que ela não pode com questões internas de cada partido. O que acontece na legenda é questão da legenda, na questão da fiscalização, é um fiscalizando o outro e pronto. Quem denuncia é quem se sentiu prejudicado e nenhum servidor da Justiça tem de se responsabilizar por nada.