As assombrações voltaram

Eduardo Ribeiro (de Formiga)

As assombrações voltaram
Eduardo Ribeiro de Carvalho é membro da Academia Formiguense de Letras




Tempos atrás, uma grande e conhecida empresa fornecedora de energia elétrica, difundiu nos meios de comunicação, uma interessante propaganda afirmando que ela, a empresa, havia acabado com as assombrações no Estado. Sim, aquelas mesmas, que o povo mais antigo morria de medo, cujos causos eram contados e recontados pelos mais velhos, assustando as crianças e mesmo até alguns adultos, sob a luz bruxuleante de encardidas lamparinas, que deixavam no ar um cheiro forte de querosene e escureciam sobremaneira o telhado sem forro das casas daquela época.

Pois é, a mencionada empresa insinuava, inteligentemente, que ao iluminar a nossa terra, ninguém mais via assombrações, ou seja, com a luz ninguém mais via assombrações, não ficavam mais enxergando coisas por aí. E a bem da verdade ela, a empresa, não estava de todo errada. Muitos dos casos de aparições assombrosas contados naqueles tempos passados, quase sempre, realmente, não passavam de situações que a própria escuridão disfarçava e encobria, e o caso era tido e dito como assombrado. Como dizia o ditado, à noite todo gato é pardo. Um galho que balançava ali, um ruído estranho acolá, pedaços de papeis e folhas secas voando ao acaso, um animal mexendo no mato, tudo isso virava assombração e deveras com a iluminação essas coisas puderam ser bem identificadas e vistas tais como eram - somente objetos e barulhos reais e os causos paranormais foram com o tempo ficando cada vez mais raros, até que nos dias de hoje quase não existem mais. Sobreviveram apenas algumas situações denominadas de lendas urbanas que ainda persistem a serem relatadas, principalmente pelos jovens.

Muito bem! Mas acreditem ou não, para nosso desespero as assombrações voltaram. 

As do passado foram extintas pela luz.

As atuais surgiram não acobertadas por alguma escuridão, mas montadas em modernas mulas-sem-cabeças, quais sejam: a economia mundial, a violência, o terrorismo, a corrupção, as propinas e outras misérias correlatas. Basta acender a lamparina, ou melhor, ligar a TV que os contadores de causos contemporâneos nos bombardeiam com suas histórias assombrosas – o dinheiro sumiu; o crédito acabou; as bolsas de valores despencaram; o dólar subiu; o desemprego aumentou; as balas perdidas mataram mais algumas crianças; os bandidos roubam de tudo; de cargas de caminhões a bancos antes impenetráveis e matam pessoas; os traficantes dominam tudo; quando não são eles são as milícias; criadas para nos “proteger”. 

Com certeza as assombrações antigas causavam menos mal, só assustavam.

As de hoje assustam também, contudo, maltratam todo o povo do País.

O pior é que o simples cidadão ouve e assiste a tudo isso, estupefato, sem poder fazer nada, é o lado mais fraco apesar de ser o lado com maior número de gente, não tem como se defender, isto porque uma meia dúzia de bandidos assombra, devasta e assola uma comunidade ou uma cidade de cem mil pessoas. É que eles não têm nada a perder, podem matar mais um ou mais vinte pessoas que para eles tanto faz, já que não têm mais nada a perder. Matam e até ironizam como se estivessem fazendo a coisa mais normal do mundo.   Já os outros noventa e nove mil, novecentos e quatro cidadãos locais, não podem fazer isso, não podem nem ter armas para se defenderem. São pessoas de bem, têm famílias, filhos para criar, um trabalho honesto. Nem mesmo a esses bandidos podem fazer algum mal, senão, são vingados, são presos, respondem processos, suas vidas se tornam um inferno. Haja complicação. Os bandidos sabedores disso, tomam conta.

Esse tipo de trabalho era para ser feito pelos poderes públicos.

Mas por alguma razão que desconhecemos, não conseguem.

Os responsáveis, eleitos por nós, que possuem acesso ao dinheiro dos pesados impostos pagos por nós, possuidores de todos os aparatos necessários, para cuidarem de nossa segurança, moradia, transporte, saúde, etc., também não conseguem. 

Na parte econômica, financeira, quando há quebradeira geral, os órgãos governamentais tratam logo de socorrer justamente aqueles que têm maior poder e que às vezes são até os provocadores da maioria das crises. Por exemplo: Petrobrás, foi uma das empresas estatais mais sugadas pela corrupção. Teve de ser ajudada, inclusive pelo povo brasileiro, que foi e está sendo obrigado a pagar um combustível mais caro, aliás, um dos mais caros do mundo. E essa empresa não é a única, têm muitas outras, Caixa Econômica, Banco do Brasil, BNDE.  E assim por diante. E a população é que sempre paga caro por isso.

E para nos atazanar ainda mais, temos: a gripe suína; a dengue; uma praga chamada zika; e outra de nome horroroso chamada chikungunya e sabe-se lá mais o quê, e para piorar ainda mais a situação, temos também os seguintes vírus que nos fazem tanto mal quanto os anteriormente citados: Sr. Eduardo Cunha; Sr. Lula; o Sr. José Dirceu; o Sr. Sérgio Cabral; o Sr. Juiz Nicolau; etc. etc. etc., todos condenados por corrupção e lavagem de dinheiro – dinheiro do povo brasileiro. 

Para combater e defender-me das assombrações antigas, eu utilizava de uma arma fatal: apagava a chama da lamparina com as pontas dos dedos umedecidas na ponta da língua e ia dormir. Sonhava com os anjos.

Para combater as assombrações modernas, eu tento usar as mesmas armas, ou seja, apago a luz no interruptor, desligo a tv no controle remoto, e vou dormir, que amanhã é outro dia.

 Mas, confesso, não tenho dormido mais com os anjos, tenho tido muitos pesadelos.