Com tristeza, requerem que a filha e o genro deixem a casa que os acolheu
Maria Lucia de Oliveira Andrade (de Formiga/MG)
Pai e mãe costumam sacrificar-se por seus filhos. Não foi diferente com o casal com quem converso. Quando a única filha se casou, propuseram que ela e o marido fossem viver com eles até que conseguissem uma reserva financeira suficiente para financiarem uma casa. Os dois aceitaram prontamente o convite.
Tinham carinho pelo genro, e a convivência, inicialmente, foi boa. Entretanto, começaram a perceber que, para os quatro, viver sob o mesmo teto seria um desafio.
Para o jovem casal, era ruim a falta de privacidade, tanto para usufruir de bons momentos a sós quanto para administrarem bem suas desavenças, típicas entre recém-casados que estão aprendendo a viver juntos. Para eles, sogro e sogra, era muito difícil assistir aos atritos, principalmente quando a filha era maltratada pelo marido. Este, com frequência, bebia além da conta, e o estado de embriaguez o tornava muito agressivo.
Nas primeiras vezes, a agressividade dirigia-se unicamente à filha deles, o que já os desgostava muito. Contudo, acentuou-se a ingestão de bebidas alcoólicas, e o genro passou a ofender também os dois. No início, relevaram o fato, pois, quando ele não estava sob o efeito de álcool, tratava-os com cordialidade.
Dizem-me que, hoje, não conseguem mais tolerar os abusos dele. São maltratados e humilhados, às vezes até ameaçados, dentro da própria casa. Intensifica o sofrimento deles ver a filha totalmente dominada pelo marido. Ela assiste aos maus-tratos a eles sem fazer um gesto ou emitir uma frase sequer em defesa deles. Está infernal o ambiente da casa, e isso está afetando a saúde física e emocional deles.
Chegaram a conversar com a filha e o genro sobre essa situação insustentável e pediram que se mudassem, mas eles se recusaram a sair, alegando que não têm para onde ir. O genro ousou dizer que não fazia nada de errado, que ele é um cidadão acima de qualquer suspeita, pois tem “ficha limpa” e emprego fixo, além de arcar com a metade das despesas da casa.
Essa recusa os fez tomar a difícil decisão de me procurarem para ajuizamento de uma ação requerendo que a filha e o marido dela desocupem a casa e retirem de lá todos os seus pertences.
Digo-lhes que fazem bem em procurar preservar sua integridade física, emocional e mental. São pessoas idosas às quais estão sendo impostos, dentro da própria casa, desgastes, hostilidade e humilhação. Passaram a vida toda a trabalhar para terem uma velhice tranquila. É inadmissível que vivam sendo violentados verbal e psicologicamente. Têm direito de viver com dignidade em um ambiente saudável, sem estresse.
De acordo com o Estatuto do Idoso, “nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”.
O fato de o genro ter, como alegou, “ficha limpa”, ter trabalho fixo e arcar com despesas da casa não afasta o risco que seu comportamento e atitudes trazem à saúde física e psicológica de quem o acolheu na própria casa, principalmente se quem o acolheu é pessoa idosa. Os idosos têm direito a uma velhice tranquila, livre de qualquer tipo de opressão.
Eles se vão, e eu fico pensando que, ultimamente, crescem os abusos a idosos. A permanência, na casa dos pais, de filhos adultos que não conseguem sua independência financeira não é necessariamente um problema. O problema ocorre quando eles se acham donos da casa e começam a humilhar aqueles que lhes deram a vida, limparam suas fraldas, ensinaram a comer, falar e andar. A prepotência, a impaciência e a crueldade que tomam conta de muitos deles impõe sofrimento intenso aos pais que não têm coragem para dar um basta a essa situação de violência. Casos assim me trazem à mente um ditado popular que um amigo meu sempre repete: “Enquanto existir cavalo, São Jorge nunca vai andar a pé...”