Crônica: A carona

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: A carona
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Divertidos e espirituosos sempre foram os jogadores de sinuca do antigo Bar do Preto, que funcionava em cima de onde é hoje o Bar Asa Branca, na Praça Getúlio Vargas.

Lá, quando dava pro pessoal pegar no pé, era um Deus nos acuda. O cara estava perdido. Se era gente de fora então, Nossa Senhora!, as chacotas não paravam. A rapaziada, como se dizia, fazia muita “sacanagem” (no bom sentido, é claro).

Certa vez, depois de um jogo bem disputado, Fernando do Manoelito e seu amigo Zuzu, o Edson Rafael da Silva, desceram ao Tropical (que era como se chamava o Asa Branca) para comprar cigarros.

Ficaram por ali queimando um pito e conversando. Papo vem e papo vai, aparece um viajante de laboratório farmacêutico saindo da Drogaria Santa Luzia:

__Meus senhores, será que poderiam me informar como eu faço para chegar à Santa Casa?

__O senhor está a pé ou de carro?, indagou Zuzu.

__Estou a pé.

Zuzu então vai a uma Kombi estacionada em frente ao Tropical, abre a porta do passageiro e fala para o vendedor de remédios:

__Entre e me espere um pouco que eu estou indo para lá e você vai comigo. É só um minutinho.

Após bater a porta, Zuzu sai em direção ao Bazar Guri e some. Mais que depressa, Fernando vai ao Tropical e avisa todo mundo. O pessoal se amontoou nas janelas.

O tempo foi passando e o viajante esperando na Kombi. Dez minutos e nada. Meia hora e nada. Foi quando o sujeito levou um susto. Muito nervoso, um vendedor de laranjas de Albertos, sujeito muito ignorante, foi abrindo a porta e soltando os cachorrros:

__Vamos cascando fora do meu carro. Cê tá ficando doido, pode sair, pode sair. Some daqui!

O pobre do viajante ficou tentando explicar o que havia acontecido, mas as esculhambações só foram aumentando. Das janelas do Bar do Preto, ouviam-se as gargalhadas dos sinuqueiros.