Crônica: Sozinho não

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Sozinho não
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Há pessoas que se foram e que deixaram Formiga sentindo falta. Algumas do gabarito do grande empresário Salomão Chicre, que partiu desta pra melhor, e outras da estirpe do eterno amigo de todo mundo Renzo Natale, que hoje está na capital mineira.

Salomão era pai daquele pessoal da Recapagem Alterosa (aqueles onde o tamanho é proporcional à simpatia e à competência) e Renzo, um dos herdeiros da Metalúrgica Ciclope (a família Natale é aquela mesma que faz parte da história, do progresso e da evolução de Formiga).

Quando criança, Renzo era bem gordinho, não dispensava um pastel de queijo com suco de laranja da Pastelaria Glória. Jovem moderno e bom na escola, ele conseguiu que sua família o presenteasse com uma Itália-1 (um tipo de motinha que fazia muito sucesso entre os adolescentes). Com ela, ia todos os dias comprar carne no Açougue Modelo, que ficava no início da Barão de Piumhi.

De Itália-1, Renzo saía toda manhã da Rua Pio XII, onde morava, passava no açougue, comprava o lombo para o almoço, dava uma volta pela Rua Gonçalves D’Amarante  (rua ao lado da Escola Rodolfo Almeida) e voltava pela Rua dos Viajantes, onde, invariavelmente, se encontrava com Salomão, que fazia brincadeiras.

__Uai, Renzo, deixa eu ver o que é que você está levando aí...

__Uai, Seu Salomão, é um pernil que a mamãe mandou comprar...

__E você vai comer esse pernil sozinho, Renzo?

__Sozinho não, Seu Salomão. Ainda vem uma travessa de arroz, outra de salada e um litro de Coca. Ainda tem o doce da Dona Maruca, que eu vou comer depois de passar na Pastelaria Glória.