Crônica: Na feira livre – II

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Na feira livre – II
Manoel Gandra é poeta e jornalista




A feira livre de Formiga é um lugar do caralho. Causos dos mais divertidos e interessantes sempre aconteceram por lá. Cada feirante tem uma lista de pitorescas histórias, e vários livros poderiam ser publicados com os relatos.

Como foi a primeira da região, a feira do produtor de hortifrutigranjeiros ganhou fama; todo mundo queria comprar lá, ela acabou caindo nas graças do povo. Ali, muita gente trabalhou e ganhou dinheiro. Um dos mais tradicionais feirantes era o paraibano Seu Raimundo Nonato, que atendia como Seu Raimundo Tomateiro. Nos anos 70, ele mantinha uma banca especializada em tomates e pimentões. Contava que as sementes vinham de longe.

Sujeito calado, Seu Raimundo montou uma barraca de lona em cima de uma carroça. Vendia cheiro verde, batata e inhame, mas os produtos de maior sucesso eram mesmo os tomates e os pimentões. 

Com o crescimento da feira, não só o paraibano, como também muita gente começou a melhorar de vida. A venda de TVs na Mobilar aumentou, e as casas de material de construção começaram a focar interesse nos barraqueiros.

Mas a melhorada de vida do Seu Raimundo era a que mais impressionava. Da velha carroça, rapidinho ele passou para uma pequena caminhonete, depois para uma maior, até chegar em um caminhãozinho Mercedes-Benz.

Tudo ia indo às mil maravilhas, até que Seu Raimundo sumiu da feira. Ninguém sabia dele. Uns achavam que ele tinha morrido, outros diziam que ele tinha voltado para a Paraíba... Foi aí que o delegado Juquinha Veloso chegou com a notícia: tá na cadeia. O susto foi geral, o cara era um tremendo pilantra e sua dinheirama não era nada sagrada.

De bobo, Seu Raimundo só tinha a aparência. Ele estava dando o seguinte golpe: o freguês pedia um quilo de tomate, ele colocava uns quatro ou cinco para pesar, só que dentro de um deles ele colocava um peso de balança. Na hora de embrulhar, ele mesmo dava uma de quem viu que havia tomate estragado e trocava o que tinha o peso por outro novinho (e bem mais leve), só que não pesava novamente. Em cada quilo, ele ganhava 300 gramas. A mesma coisa a sua esposa fazia com os pimentões.

Ia ficando milionário, só que teve um dia em que, por puro azar, o Juquinha Veloso ia fazer uma macarronada e foi comprar uns tomates. Experiente, o delegado descobriu o trambique. O espertinho depois que saiu da cadeia sumiu de Formiga. Dizem que mudou-se para Piumhi, onde não teve mais problemas e acabou ficando rico.