Crônica: A Banança

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: A Banança
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Zezico e Zé Piorra foram dos mais importantes e competentes barbeiros que Formiga já teve. Muito alegres, ficavam atentos a qualquer vacilo de freguês (o pior é que eles sempre davam um jeito de aumentar).

Como passavam boa parte da vida fazendo chacotas, de vez em quando eles acabavam se tornando vítimas. “É tudo invenção desse povo”, garantia Zezico.

Tem uma dele que é ótima e que seus antigos amigos fizeram perpetuar. Certa época, ele trabalhou no salão Ideal junto com o mestre Bolivar Montesserrat. Chegou um freguês, um viajante que vendia panos para o Juvêncio Barbosa da Casa Três Irmãos, e pediu para fazer a barba. Saindo da adolescência, o viajante tinha a cara espinhosa. Zezico era muito maldoso (no bom sentido), quando pegava um freguês com a cara cheia de espinhas até babava de felicidade. Se era de fora então...

O barbeiro ajeitou a cadeira e mandou o sujeito sentar, colocou uma toalha amarrada no pescoço do coitado e vrruuumm!, começou a passar a navalha de qualquer maneira. O sangue jorrava e o pobre coitado quase morria.

Zezico então pegou uma garrafinha de álcool, molhou bem as mãos e vlap! na cara do sujeito. Pegou uma caixinha de papelão de sabonete Ibê e foi abanando. Virou-se para o viajante e filosofou:

__Depois da tempestade, vem a BANANÇA.

 

***

A outra é do Zé Piorra e também é muito boa. Nos anos 50, era comum ter apagão na cidade. O que vinha de energia elétrica para Formiga era o que conseguia gerar uma pequena usina que existia na comunidade de Pouso Alegre.

Além disso, quando tinha força, ela era sempre fraquinha, não dava para trabalhar à noite como barbeiro. Foi então que o Zé Piorra teve uma grande idéia para ganhar dinheiro. Afixou a seguinte tabela de preços na porta da barbearia:

FUMACÊ DE BARBA

Freguês segurando a lamparina: Cr$ 1,00

Zé Piorra segurando a lamparina: Cr$ 1,40

A filha do Zé Piorra (que era muito bonita) segurando a lamparina: Cr$ 2,00

Sua barbearia nunca ficava vazia.