Crônica: Ninico no Tiro-de-Guerra

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Ninico no Tiro-de-Guerra
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Há histórias que sempre creditam a Ninico Resende. Ninguém sabe ao certo se as coisas realmente aconteceram ou se atribuem a ele porque o ex-prefeito sempre leva na esportiva (característica comum apenas a pessoas inteligentes).

Pessoa muito divertida, o saudoso Comendador Osório Garcia gostava de contar casos que tinham Ninico como protagonista. “Esse Ninico é uma raposa, e raposa tem uma pinta branca no rabo para que o atirador não erre o alvo”, comentava.

Dizia o Comendador que quando o ex-prefeito fez o Tiro de Guerra, lá pelo início dos anos 60, ele logo se sobressaiu pela astúcia.

Muito franzino, Ninico era mais chamado para atividades intelectuais do que físicas. Se era pra receber alguma autoridade, ao invés dos brutamontes, ele é que era o escolhido. Para capinar e bater laje, seu nome era retirado da lista.

Quando a turma de Ninico já estava no meio do serviço militar (naquela época servir o Tiro de Guerra durava um ano), veio para a cidade um sargento novinho doido para mostrar eficiência.

Sem conhecer Ninico, o novo sargento foi logo marcando limpeza de banheiro para ele. Capinar, rastejar e marchar passou a ser obrigação. Tudo ia normal até que, em uma prova oral, o ex-prefeito pôde demonstrar sua inteligência.

__Atirador Resende, venha à frente. Para limpar o fuzil qual é a primeira providência que o atirador toma?, perguntou o sargento.

__Eu olho o número de série, senhor!, respondeu Ninico.

__Atirador Resende! Para limpar o fuzil qual é a primeira providência que o senhor toma?, insistiu o sargento.

__Eu olho o número de série, senhor!, repetiu Ninico.

__Por que o número de série, atirador Resende?

__É para ter a certeza de que eu não vou limpar o fuzil de ninguém, senhor!

Na mesma hora foi uma gargalhada geral. Pela primeira vez, Ninico foi obrigado a ficar uma noite inteira de guarda.