Crônica: O bonezinho

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O bonezinho
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Com um metro e 98 centímetros (de altura e de largura) e 125 quilos, Mafú é um dos responsáveis pela vigilância bancária em Formiga. Onde ele trabalha, no Bradesco, não passa assaltante nem perto (dizem que uma turma do Comando Vermelho esteve por aqui, mas ao ver o tamanho do rapaz resolveu tentar a sorte em outras plagas).

Atleta exemplar, Mafú foi um dos melhores pivôs do basquete do FTC e, no futebol, é um goleiro com muita elasticidade. Grandalhão, dá medo nos atacantes adversários (já quebrou a costela de um na faculdade e de outro na sede campestre do Clube Centenário).

Muito bom debaixo dos três paus, Mafú é sempre solicitado quando há um campeonato. Certa vez, há uns dois anos, o garotão foi convidado a participar de um torneio relâmpago no Clube Centenário. O campeonato durou toda a manhã de domingo e a final só aconteceu quando já era lá pelo meio-dia.

Como o sol estava de rachar, Mafú pediu um boné emprestado a um rapaz que assistia do lado de fora. Com atuação de causar inveja, Mafú segurou o resultado (com 0 x 0, sua equipe seria campeã).

Quando faltavam uns 30 segundos, o beque Antônio Bezerra entra de sola no craque Josuel: o árbitro Julinho (que do meio de campo conseguiu ver a infração) aponta para a marca do pênalti. O pessoal quase bate em Bezerra.

__Calma gente, calma. Pode deixar comigo, disse Mafú, que mandou todo mundo se afastar, tirou o boné, o jogou no fundo da rede, deu uma cuspida nas mãos e esfregou.

Bola na cal, Flavinho do Landico se afasta, dá duas bicudinhas no chão, corre e solta a goiúda. Mafú agarra firme. Festa total, todo mundo pulando no pescoço do enorme goleiro.

Feliz da vida e todo orgulhoso, Mafú põe a bola debaixo do braço e vai buscar o boné dentro do gol.

__Priiiiiiiiiiiiii!, apitou Julinho.

Gol contra de Mafú. Naquele dia, o grande goleiro só não apanhou pelo fato de ser um goleiro muito grande.