Crônica: O desconfiado

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O desconfiado
Manoel Gandra é poeta e jornalista




No início de 2003, Carlos Alberto Sales, o Carlinhos da Embratec, foi à Casa Cruzeiro Veículos e comprou um Corsa zero bala. Cuidadoso, só saía aos finais de semana e só ia onde havia asfalto.
Naquela época, Carlinhos era secretário Municipal de Administração e tinha de andar pelos quatro cantos da cidade vistoriando obras. Ia sempre de carro da Prefeitura. Certo dia, para mostrar pro pessoal, foi trabalhar de carro novo.
Deu azar. O jovem trafegava em uma rua atrás da faculdade, perto da MG-050, quando um caminhão desgovernado praticamente passou por cima do Corsa. O veículo teve perda total, mas o secretário, por pura sorte, não sofreu um arranhão.
Passado o susto, Carlinhos acionou a seguradora, uma empresa paulista. Foi então que ele começou a ser contatado para dar informações sobre o sinistro (acidente na linguagem dos seguradores).
Quem trabalha no serviço público sabe que se há um local onde existe muita brincadeira, este local é a repartição. O secretário então resolveu ficar esperto para não ser motivo de chacotas, estava todo mundo a fim de zoar com ele.
 Como de praxe, Carlinhos começou a receber telefonemas da seguradora para que fosse marcada a vistoria, mas só que ele passou a não acreditar nas ligações, achando que tudo era trote do pessoal do escritório.
__Senhor Carlos Alberto Sales, estamos vendo aqui na ficha que um motorista de caminhão pegou o senhor por trás...
__ÔÔÔaaa!!!!
__Mas, o senhor não é Carlos Alberto, aquele que um caminhão engatou na traseira?
__Vááápo!!!!
__Aqui está escrito que era manhã e que o senhor nem esperava quando houve o sinistro e que, apesar do estrago que o motorista do caminhão fez, o senhor não sentiu nada...
___Casquei fora!!!!
Garantem as más línguas, que até o final de 2004, quando deixou a Prefeitura, o desconfiado Carlinhos da Embratec ainda não tinha recebido o carro novo da seguradora.