Opinião: A hipocrisia formiguense

Lúcia Helena Fiúza (de Belo Horizonte/MG)

Opinião: A hipocrisia formiguense
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Em conversa de família, ouvi o comentário de minha irmã Cecília sobre as últimas eleições que levaram Luiz Inácio Lula da Silva de novo ao Palácio do Planalto. Ela enumerou nossos primos e amigos e a tendência política de cada um. Dizia que uma pequena parte seria de esquerda, mas a grande maioria de direita, por isso, Jair Messias Bolsonaro teria saído vencedor na cidade.

Quem analisa superficialmente a história de nossa querida Formiga pode dizer que há o domínio de uma comunidade com o perfil tradicionalista e conservador, que valores cristãos são preservados e que é a família o grande suporte que mantém a sociedade vívida.

Depois de ouvir os argumentos de minha irmã mais velha, expliquei a ela que Formiga é uma cidade como as outras, igual a Araxá onde ela mora, porém, com um perfil mais machista e misógino. Se há tradicionalismo na cidade, ele se dá na subordinação da mulher, que é e sempre foi colocada em segundo plano.

Cecília foi embora nos anos 1970 e talvez por isso não tenha lembrança de como as coisas funcionam pelo lado das Areias Brancas. Em Formiga, olha o absurdo, sempre foi comum o homem ter duas famílias. Citei pra ela, só para refrescar a memória, os nomes de um farmacêutico, de um industrial da cal, de um comerciante do Centro, de um médico, de um dentista e de um advogado, todos com duas famílias, com duas casas e com filhos e cada uma.

O que mais dói é que as esposas sabem e aceitam. Tem até o caso de um filho de uma família que é padrinho do irmão nascido na outra, o que mostra que essa tradição vai continuar.

Em Formiga, os homens são criados desde pequenos com a certeza de que têm mais direitos do que a mulher. As famílias são patriarcais e as filhas são tratadas para perpetuar o formato nuclear que se mantém há anos.

No trabalho, é só perguntar a qualquer atendente de caixa de supermercados como são os tratamentos que recebem em comparação com os homens que têm funções semelhantes.

Acredito que o que há em nossa cidade pode até ter cara de tradicionalismo e conservadorismo, mas é um tradicionalismo e um conservadorismo do que há de pior. Há muita pilantragem e safadeza, não são poucas as famílias de fachada onde os membros vão juntos a cultos e a missas para fazer transparecer harmonia. Rezam muito.

A verdade é que há muita hipocrisia. Com relação ao fato de Bolsonaro ter sido o mais votado na cidade, não há surpresa, já era esperado. Formiga tem no seu DNA muito do machismo e da misoginia que sempre caracterizaram o perfil do ex-presidente.

O que houve é que teve muito eleitor formiguense que apenas votou no seu semelhante.