Crônica: Papel rasgado

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Papel rasgado
Manoel Gandra é poeta e jornalista




A Companhia de Teatro de Comédias Franklin de Carvalho foi uma das mais espetaculares, fantásticas e competentes manifestações culturais da história de Formiga.

Por lá passaram figuras interessadas no desenvolvimento da atividade artística e preocupadas com a vida intelectual da cidade.

Como toda boa companhia de teatro, a Franklin de Carvalho teve suas histórias. Tem uma inacreditável, folclórica e interessante. Porém, verdadeira.

Era um sábado à noite e o Teatro Municipal, que ficava onde é hoje o estacionamento da Prefeitura, estava lotado. A peça era um sucesso. No palco, o casal protagonista Estácio Vieira e Inês Barbosa.

A cena era de importância fundamental para o enredo. Inês recebe uma carta entregue por Leão da Silva (o Leão da Difusora). Moisés Silva (o Moisés da Farmácia) e Vitória Gouvêia discutem enquanto Inês lê a missiva.

Estava tudo muito bem ensaiadinho. Em início de carreira, o radialista Aureliano Pinto, o Landico, servia como contra-regra. Na cena, Inês deveria pegar a carta e queimá-la. Uma caixa de fósforos e um cinzeiro deveriam estar em uma mesinha no canto do palco. Estácio entraria e diria em voz de denúncia: “Mas que cheiro de papel queimado!”

A peça estava no clímax. A iluminação é apagada, Inês pega o papel e se prepara para colocar fogo. O teatro em silêncio. Ela procura pelo fósforo e nada, o contra-regra havia se esquecido do pequeno detalhe. Experiente atriz, ela improvisa e rasga a carta em pedacinhos.

Estácio entra em cena. Não há papel queimado. Mais experiente ainda, ele também improvisa:

__Mas que cheiro de papel RASGADO...

O teatro veio abaixo. Felizmente, a peça era uma comédia e muita gente acabou achando que a cena fazia parte do roteiro.