Cronicando: Janela em fontes

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Janela em fontes
Robledo Carlos é representante comercial




Corro, eu ainda estou vivo

Desenfreadamente e preciso

O peso de arrasto é o peso que alimento

Flutuo sem peso em pena de chumbo

Arrasta-me em ventos errantes

Eu ainda estou vivo

Eu preciso de um abismo

Eu corro para o abismo

Eu ainda estou vivo

Arrasto o resto da poeira que me segue

Poeira de mim

É o arrasto que mais amo

Vem logo abismo

Sem cinismo

Fortaleza na ponta dos pés em beira

Eu chego ao abismo em que habito

Sobe tudo que preciso em mim

Eu estou sob o abismo

O abismo aos meus pés

Preciso do meu abismo para o meu grito

O grito de mim

De pouco adiantaria o meu grito

Mas o que mais quero é gritar

Somente o eco me responde

Quão feliz com nosso diálogo e sem sua resposta

Eu grito, canto, já os poemas são de minha alma

Vivemos nós três ali à beira, abissalmente nos amando

O abismo, eu e os poemas a nos conflitar

Não quero perturbar a paz

Eu estou no meu habitat, o que habito

Não reflito

Repito

O abismo é só mesmo para o grito

Eu preciso gritar

Eu estendo a mão

Eu rio de mim

Eu aro

Eu planto jasmins

Eu não me preocupo

Eu engulo choros

Eu cometo erros

Eu sempre cometo erros

Eu tenho poucos acertos, mas são de meus erros

Mesmo que ninguém nem leia ou ouça

Tão às vezes no lago ou em poças

De lágrimas ou de risos

O que ainda me resta é meu abismo

O abismo e eu.

Ainda grito.